Existe um comportamento quase que padrão dentro do meio de ilustração que há muito me aborrece , que eu chamo carinhosamente de “cultura urubu”.
O que viria a ser essa tal “cultura urubu”?
Funciona mais ou menos assim, um ilustrador está sem trabalho, aí ele fica procurando outros ilustradores para ver se os outros também estão sem trabalho. Aí fica um tal de “e aí, como tá de trabalho?” e o outro responde “tá uma merda....”
Agora eu pergunto: aonde esse tipo de comportamento pode ser considerado bom ou útil para alguém?
Sem contar que existe a cultura urubu 2.0, que é o ilustrador sem trabalho, procurando quem tem trabalho para que o cara que tem trabalho divida o trabalho com quem não tem. Só que não é exatamente assim, se um ilustrador está com trabalho sobrando vai procurar alguém para o ajudar SEM que você precise ficar igual urubu sobrevoando em cima do animal quase morto, esperando para poder avançar na carniça.
E ainda, existe a versão 3.0, que é o ilustrador sem trabalho, e que fica procurando quem tem trabalho, quem é o seu cliente, como é o trabalho que você está fazendo para o seu cliente, e aí o cara começa a comer seu cliente pelas beiradas, até mostrar para ele que faz a mesma coisa que você faz, só que mais barato, só para pegar o trabalho que você está fazendo.
E qual é o problema disso? A gente não pode mais ter uma concorrência saudável?
Aí eu pergunto: Desde quando isso é concorrência saudável?
O problema é que vivemos num mercado com baixa demanda para ilustração, muito ilustrador oferecendo seus préstimos, ilustradores com pouca versatilidade, e com menores capacidades de planejar o seu futuro no mercado que quer fazer parte.
Então não é apenas um problema, é um conjunto de problemas. Aliado a um problema pra lá de agravante: os nossos clientes tem cada vez menos cultura de ilustração. Até tem alguma cultura de desenho animado e história em quadrinho, mas não estão familiarizados com estilos, linguagens de ilustração, técnicas e etc. E por que isso acontece? Acontece porque desde criança, quando essas pessoas nem pensavam em trabalhar como nossos clientes se acostumaram com os desenhos animados que passam na televisão, com as revistinhas em quadrinhos que eles compravam nas bancas, com os gráficos dos video games que eles jogam, mas nunca viram os desenhos, as técnicas variadas de ilustração, não conhecem a linguagem. Isso não faz parte do seu ser e muito menos de sua história.
Agora, vem mais uma perguntinha capciosa: E por que essas pessoas nunca conheceram nossos desenhos e técnicas?
Porque NENHUM ilustrador, NUNCA se importou em fazer seu estilo, sua técnica, sua linguagem gráfica ser conhecido pelo consumidor.
Agora: Por quê?
Porque TODOS sempre acreditaram e AINDA acreditam que seu alvo são diretores de arte, artbuyers e editores de arte. No auge de suas arrogâncias, TODOS sem exceção te olham de cima para baixo, como se você fosse um grande pedaço de bosta quando você questiona porque não se esforçar para fazer com que os NOSSOS trabalhos se tornem conhecidos do grande público.
Resultado: ignoram que o público final, seja ele qual for, é formado por todo tipo de pessoa, que mesmo que não sejam editores de arte, diretores de arte e artbuyers, são CONSUMIDORES. São consumidores que você não faz a mínima questão de cativar.
E dá-lhe cultura urubu!!
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