15.6.10

Somos vítimas?

Existe uma cultura impregnada em nosso meio quase que irracional de reclamar dos problemas inerentes ao nosso mercado, dizendo que o mercado que fazemos parte é ruim, mesmo que paradoxalmente quando esses mesmos problemas são expostos para uma quantidade maior de pessoas igualmente se percebe a cultura de se omitir ou esconder o problema, como se o fato de não os enumerar perante outras pessoas pudesse fazer com que os problemas deixem existir ou se ao expor esses problemas para mais pessoas os problemas possam aumentar.

No entanto os profissionais, sejam eles iniciantes ou experientes se esquecem de perceber um detalhe. Um problema, se existir é porque teve uma causa, se o problema persistir é porque a causa igualmente está persistindo e se não houver problema algum é porque não existe causa.

Essa frase acima parece bastante infantil, quase que uma frase de efeito e sem sentido. No entanto é uma frase que encerra alguma sabedoria, e, precisamos ter a humildade de perceber que sabedoria não anda sendo o forte do profissional de ilustração há algum tempo.

Vou tentar ser mais específico ao invés de ficar jogando palavras ao vento.

Vivemos com inúmeros problemas no que diz respeito a nossa realidade profissional, eu vou tentar apontar alguns:
- Excesso de profissionais;
- Valores baixos sendo pago;
- Presença de muitos profissionais com baixo nível;
- Quantidade pequena de clientes em potencial;
- Não reconhecimento da profissão;
- Falta de um curso de uma formação satisfatória de abrangência nacional;
- Sucateamento do ambiente de trabalho do ilustrador;
- Isolamento entre profissionais;
- Concorrência acirrada e muitas vezes injusta;

Lógico que existem mais pontos, mas esses já podem nos servir de cara.

A primeira coisa a se fazer é ADMITIR essa realidade. Encarar o problema como real e que seja necessário combatê-lo com eficácia para que o problema se extingua e não volte mais. Quando admitimos, admitimos para NÓS, somente importa nós termos consciência dele, e o fato de outras pessoas terem conhecimento ou não de maneira alguma irá influenciar na solução do problema, pois o problema está CONOSCO e somos nós que, com os nossos esforços em modificar a causa do problema naquilo que diz respeito a nós mesmos é que poderemos acabar com o problema, ou fazer com que o problema se agrave, caso continuemos nos comportando com se vivêssemos num mundo cor de rosa.

Isso significa que em épocas de crise e dificuldades para uma determinada profissão ou para um determinado povo, para continuar fazendo parte dessa profissão ou para que o povo continue existindo é preciso ter CORAGEM. Primeiro para admitir conforme já colocamos, depois para encarar os problemas, sempre, até que o problema não exista mais e somente depois disso agir, com paciência e firmeza para que os problemas possam ser resolvidos.

Uma vez que você admita e tenha coragem de encarar o problema, é preciso dentro de cada um de nós sentir que podemos e temos o controle da situação. Na verdade cada um de nós sempre tem controle da situação, seja ela qual for; no entanto, ao acreditarmos não ter o controle permitimos que o problema cresça a ponto de não conseguirmos mais controlá-lo. Nesse momento, se faz necessário resgatarmos a crença em nós mesmos de que somos capazes de retomar o controle da situação. Vejam que eu estou colocando a crença no controle não para achar que já que temos o controle não precisaremos resolver o problema, pois isso é negar o problema que nos levará automaticamente ao ponto inicial de nossa questão.

Ao termos essa clara noção de que podemos ter o controle da situação, devemos então analisarmos sem pressa aonde entramos no meio do problema. Só que não adianta acharmos que somos a vítima, infelizmente o papel de vítima é seriamente questionável, pois sempre permitimos ou pelo menos somos levados por algum sentimento de vantagem ou de facilidade a cair em armadilhas que depois nos criarão problemas. Quando nos vestimos de vítimas, estamos automaticamente admitindo que não temos o controle da situação, pois o problema vem de uma causa externa, maior do que nós mesmos e que independe de nossas atitudes. Em 100% dos casos aonde as pessoas se colocam como vítimas, elas apenas escondem de si mesmas a sua parcela de responsabilidade nos fatos.

À partir da análise séria e realmente imparcial precisamos saber qual foi o nosso papel que nos levou até o cenário de problemas. Foi o papel oportunista? Foi o papel de preguiçoso? Foi o papel de ingênuo? Foi o papel de iludido? Pode até mesmo ter ocorrido uma junção de mais de um papel.

Depois vem o mais difícil da história que é numerar TUDO o que ocorreu de errado, substituir os possíveis erros por práticas que possam nos parecer corretas e agir de acordo com a análise que fizemos. E trabalhar, trabalhar e trabalhar mais ainda, e esperar que com o tempo, os frutos das mudanças possam surgir e também perceber se os frutos não forem bons, precisaremos voltar com a nossa análise e novamente separar os erros e tentar substituí-los por ações que possam ser mais acertadas.

Agindo assim, o resultado virá.

Não adianta achar que isso é uma explicação sem graça, não existe mágica e nem milagre no mundo, o que existe é esforço e paciência.

Algumas pessoas dizem para nós que o resultado positivo em uma empreitada é o trabalho lento, constante, incansável, responsável, paciente, perseverante e tudo mais. Todas essas palavras costumam ser interessantes, mas representam algo muito penoso, demorado, sofrido e, embora a gente siga essas dicas, muitas vezes embalamos sonhos de aparecer alguma oportunidade de ter sucesso de maneira mais rápida, mais fácil ou mais suave.

Uma hora sempre pode aparecer (e aparece) uma oportunidade, muitas vezes aparecem pessoas apresentando para nós o quer podemos pesar que seja um atalho para o sucesso. É quando a gente pensa: agora é a minha vez! Vou dar o golpe de sorte da minha vida! E a oportunidade que geralmente representa o golpe de sorte costuma ser geralmente algo que exige pouco esforço e muito dinheiro, e se tiver fama na parada é melhor ainda. Nós esquecemos que as oportunidades que aparecem em nossa vida são apenas uma porta a mais, só que o trabalho constante, incansável, disciplinado e perseverante vai continuar sendo necessário.

O que costuma acontecer nessas horas? A gente se enche de esperança, mergulha de cabeça no meio rápido, fácil e indolor de se chegar ao sucesso e deixamos de lado aquela semeadura lenta e gradativa. Depois, passa toda essa loucura, que sempre não gera coisa alguma, isso quando não acaba deixando a gente mais endividado e com muitas desilusões no currículo, fazendo com que a gente pense em desistir de tudo de uma vez por todas. E se não bastasse, a gente começa a perceber que aquele trabalhinho lento e gradativo que nós abandonamos foi perdido. E o pior de tudo é que teremos que começar esse trabalhinho lento e gradativo do zero tudo de novo.

Nos iludimos facilmente achando que um dia aparecerá uma oportunidade que irá nos gerar fama e dinheiro com pouco esforço, a gente nem percebe que 100% das pessoas bem sucedidas no mundo são pessoas que trabalham bem mais do que as 40 horas semanais que todo trabalhador com carteira assinada sonha um dia trabalhar. Nenhum empresário fica dormindo até as 11h00 e depois fica até o meio dia assistindo televisão, pára as cinco da tarde para tomar um cafezinho e bate o ponto as seis da tarde e tem tempo pra assistir as novelas nas seis, das sete e das oito.

Nenhum homem bem sucedido fica duas horas por dia lendo jornal e tendo tempo de fazer palavras cruzadas. Nenhum homem de sucesso almoça por duas horas todos os dias. Nenhum homem de sucesso fez curso por quatro anos e nunca mais precisou estudar.

E nós costumamos achar que poderemos ser alguma coisa trabalhando pouco, lentamente e sem estudar...

Sem querer, a gente começa já a perceber aonde residem os problemas. Não somos vítimas, se poderemos nos considerar vítimas, então somos vítimas de nós mesmos.

Qual é a nossa formação?

Quanto tempo por dia estudamos ou treinamos alguma coisa nova que poderá nos fazer ter um trabalho melhor?

Quanto tempo por dia passamos estudando o nosso mercado de atuação?

Quanto tempo por dia passamos estudando nossas falhas no marketing pessoal, nas nossas falhas de infra-estrutura, nas nossas falhas de técnica de desenho ou nas falhas no nosso contato, ou no nosso modo de montarmos um orçamento?

Quanto tempo dispomos para desenvolver produtos novos?

Quanto tempo dispomos para estudar novas opções de soluções para as necessidade e problemas de nossos clientes?

Costumamos analisar as demandas de mercado ao entrarmos em um determinado segmento?

Costumamos estudar se existe algum público com demanda reprimida?
Temos algum programa de treinamento para aprimorar a técnica de nossos trabalhos?

Costumamos fazer planos de mercado com objetivos a curto, médio e longo prazos?

Costumamos traçar estratégias, seja ela de marketing, de formação ou de desenvolvimento?

Costumamos organizar um calendário estratégico analisando as épocas de aumento e diminuição de demanda de mercado para aproveitar as fases de baixa para investimento em nós mesmos?

Então, precisamos ter a humildade de perceber que nós não somos nem um pouco capazes de sermos bem sucedidos se a resposta foi não para mais de três das perguntas anteriores.

Aí, será que teremos a cara de pau de continuar afirmando que a culpa é dos novos profissionais que vendem seu trabalho a preço de banana, ou de clientes que pagam pouco e nos impõem contratos leoninos?

O mercado age conosco da maneira como agimos com ele. As empresas e clientes não nos respeitam porque nós não nos respeitamos. Eles não nos valorizam porque nós não nos valorizamos. Eles não nos reconhecem como profissionais porque nós não nos reconhecemos como profissionais.

Vamos olhar para outras profissões, médico, advogado, engenheiro, programador, empreiteiro, vendedor, jornalista. Todos eles agem de maneira semelhante para serem bem sucedidos. Nós costumamos nos achar os tais, trabalhamos a hora que queremos e quando alguém questiona a qualidade de um trabalho nosso a gente diz que a arte não se questiona, que o valor de nosso trabalho está intrinsecamente contido nele mesmo, seja lá o que isso possa significar; e achamos que todo mundo cai na nossa lábia.

Quando eu estava começando, era apenas um assistente de arte aspirante a ilustrador, uma vez ouvi vários diretores de arte e redatores tentando me convencer a não ser ilustrador. Eles diziam que os ilustradores eram pessoas inúteis e insuportáveis. Pessoas fora da realidade, de intelecto e visão reduzidas, sem cultura, metidos a especialistas e que todo mundo somente aturava esse pessoal, mas ninguém caía no xaveco furado dos ilustradores porque os ilustradores na verdade só sabiam fazer direito era falar de futebol e tomar cerveja no bar.

Eu me lembro muito bem que eu fiquei com uma raiva tremenda desse pessoal na época, fiquei revoltado com isso e por um bom tempo alimentei uma rebeldia feroz querendo provar que isso tudo era mentira.

Hoje eu vejo que, embora alguns comentários fossem de extremo mau gosto e maldade, existia muita verdade nas coisas que esses diretores de arte me falaram a quase vinte anos atrás.

O que me deixa mais abismado nessa história toda é que essa visão pode ser ainda a mesma que muitos de nosso clientes tem de nós atualmente, isso se eles não tiverem uma visão mais negativa.

Será que a visão deles é distorcida? Será que ninguém tem razão? Será que o mundo é feito apenas de clientes malvados que ninguém consegue ver que ilustração vende?

Será que ilustração vende?

Quando uma ilustração vende?

A cada dia que passa eu vejo quanto precisamos caminhar e quanto somos responsáveis pelos problemas que existem em nosso mercado.

Somos vítimas de nossas imperfeições.

9.6.10

Crítica para a autocrítica

Não é muito difícil encontrar pessoas que, ao serem interpeladas quanto às dificuldades profissionais que passam na profissão de ilustrador, dizerem coisas como: o baixo preço ou a baixa qualidade que outros profissionais ou pretensos profissionais tem jorrado no mercado profissional é a causa dos meus problemas.

No entanto, já faz um bom tempo que eu venho notando uma coisa bastante peculiar, coisa que eu fui percebendo pelo meu próprio comportamento, pois muitas vezes eu peguei a mim mesmo reclamando do que seria erros cometidos por outras pessoas.

Confesso que eu perdi muito tempo de minha vida apontando este ou aquele, porque um faz tal erro, outro faz tal coisa e assim por diante. Mas, uma hora me caiu um certa ficha: o que EU faço?

Reclamo?

E desde quando reclamar é fazer algo de útil?

Se ninguém faz nada que presta, infelizmente eu preciso dar o braço à torcer que eu também não ando fazendo absolutamente nada que presta. O mundo não vai mudar, nem pessoa alguma irá mudar porque eu quero que elas mudem, por mais que eu venha a ter razão em querer que mudem. Cada um de nós somente muda para melhor à partir do momento em que tem a consciência de que precisa se melhorar e, infelizmente cada um de nós somente tem capacidade e poder para mudar apenas a si mesmo, desde que tenha consciência e queira mudar.

Reclamos que os preços que OS OUTROS cobram é baixo, mas espera um pouco... será a gente nunca abaixou o preço do nosso trabalho para conseguir um jobzinho ou pra conquistar aquele cliente que seria tão especial? Será que nenhum de nós já não topou fazer um trabalho de graça em troca da divulgação de nosso nome? Será que nenhum de nós já não aceitou contratos leoninos somente para ter um desenho NOSSO aparecendo nessa ou naquela revista?

Precisamos ter uma autocrítica mais imparcial. Quantas vezes não decidimos tomar um caminho profissional não porque esse caminho é o melhor profissionalmente, mas que esse é o sonho que eu tenho desde a minha infância.

Sonhar é imprescindível para que o ser humano continue se sentindo vivo, mas para se sonhar e fazer com que o sonho se torne realidade é preciso antes de mais nada ter consciência de que seu sonho jamais deverá transformar a realidade de outra pessoa em pesadelo.

Por cima de quantas pessoas você é capaz de passar para conquistar seu sonho ou seu objetivo? Quantos outros sonhos você seria capaz de destruir para realizar apenas o SEU SONHO? Quantos mercados e profissionais precisarão ser devastados por um exército de sonhadores que sequer acordam para ver que ao marcharem em busca do seu jardim do Éden, estão transformando o mundo num inferno aonde não cresce nem erva daninha...

Infelizmente temos a mania de, quando o assunto são os direitos, olharmos sempre para fora, pois eu tenho direto de ganhar isso ou aquilo do governo, do mercado, do concorrente, no meu pai, do meu vizinho, da minha esposa; só que quando o assunto é dever, aí a gente olha pra fora, meu concorrente tem o dever de cobrar mais pelo seu trabalho, tem o dever de melhorar o seu traço a sua técnica, minha esposa tem o dever de limpar toda a casa e ainda por cima deixar a comida prontinha pra eu chegar em casa e só jantar, meu pai tem o dever de pagar as minhas contas quando eu não tenho dinheiro pra pagar...

Precisamos acordar e ver que a realidade somente será melhor no dia em que nós mudarmos a nós mesmos. Senão continuaremos destruindo tudo a nossa volta em nome de nossos sonhos, e uma coisa eu posso garantir para qualquer um é que ninguém sequer conseguir ter o mérito de usufruir de seu sonho espalhando e semeando a destruição a sua volta.

Infelizmente temos atualmente esse terrível dom, o da destruição, enquanto que um ilustrador deveria ser uma pessoa consciente que deveria auxiliar a construir um mundo, uma sociedade melhor, justa e correta.

Precisamos olhar para o lado e ver se aquele tal iniciante precisa de uma mão e estender essa mão. Não devemos sair por aí carregando todo mundo nas costas, mas ser menos egoísta em nossos direitos e no direito de sonhar para perceber que o outro também tem esse direito pode ajudar a todos e muito.

E na hora de ver o que está errado, eu acredito que está mais do que na hora da gente olhar pra dentro, ver o que cada um de nós faz de errado e nos esforçarmos para fazer mais, melhor e com menos erros.

O outro desenha mal? Poderia ter uma técnica melhor, saber pintar, utilizar melhor os programas de computador, aumentar o cabedal de conhecimento, ter mais cultura? E você, não precisa nada?? Por que ao invés de pensar que o outro precisa estudar, você não estuda? Por que ao invés de querer que o companheiro do lado melhore a qualidade do trabalho você não se esforça para melhorar a qualidade DO SEU?

Prestemos atenção no panorama atual da relação entre ilustradores: ilustrador A acha que ilustrador B precisa melhorar seu trabalho porque tem um trabalho ruim e está ajudando a afundar o mercado vendendo um trabalho tão ruim e espera uma atitude de B de maneira impaciente sem se mover. No entanto, ilustrador B sabe que o trabalho de ilustrador C, embora seja bom, é muito mais barato que o seu trabalho e exige que C melhore seus valores porque com os precinhos açucarados de C o mercado está afundando e B não irá se mover enquanto C não tomar uma atitude. Já o ilustrador C, percebe o quando o ilustrador A está prejudicando o mercado pelo sua falta de conhecimento sobre as coisas, pois sempre faz trabalhos em que se percebe que A sequer foi atrás de referência. No entanto, C exige que A tenha uma postura profissional adequada e enquanto A não se mexer, C também não irá mover uma palha.

Em comum todos os três enxergam somente o erro alheio.

Infelizmente esses três são o resumo do mercado inteiro.

Você tem certeza que o seu trabalho é o melhor trabalho que VOCÊ poderia fazer? Será que você não tem esse estilo e adota essa técnica porque não se recusa a estudar, porque se recusa a se esforçar para ter um trabalho melhorzinho, porque se recusa a ter mais conhecimento? porque se recusa a usar mais materiais e materiais melhores? porque se recusa a aprender a usar os softwares em toda a sua capacidade? porque se recusa a rascunhar mais, a ir atrás de mais referência, a realizar mais estudos para os trabalhos que você faz, a treinar estilos e técnicas mais variadas?

Você tem certeza de que o seu trabalho custa o preço mais correto que VOCÊ poderia cobrar? Será que você cobra esse valor porque nunca procurou pesquisar o valor de outros profissionais? Você já procurou saber quanto se pagava por esse mesmo trabalho a cinco anos atrás, a dez anos atrás, a vinte anos atrás? Você sabe se o seu trabalho dá retorno financeiro para seu cliente? Você sabe se caso você fizesse esse mesmo trabalho em outra técnica ou caprichasse mais o retorno para o seu cliente seria melhor, permitindo que você, por sua vez possa cobrar mais pelo seu trabalho? Você já procurou se especializar em desenvolver uma técnica, um estilo que proporcione ao seu cliente maior eficácia em seu ramo de negócio?

Você acha que o seu trabalho não pode ser melhor do que já é? Você acha que não existe capacidade de seu trabalho ser melhor? Você já viu como era o trabalho dos ilustradores que estavam no mercado a 10, 20 ou 30 anos atrás? Se eles faziam coisas melhores do que você faz, você já parou pra pensar que você também poderia ter um trabalho tão bom quanto o deles? Você já parou pra pensar que os mestres não são mais do que você é? Só que eles estudaram e se esforçaram bem mais do que você? E que por isso ele é um mestre? Nenhum dos grandes mestres da pintura, do desenho ou da ilustração veio de outro planeta, nenhum nasceu com seis dedos, nenhum deles tinha poderes sobrenaturais, nenhum deles tinha três olhos, duas bocas, visão de raio-X e nem sabia voar. Todos eles sempre foram iguaizinhos a cada um de nós.

Então porque o trabalho deles é tão melhor do que o nosso?

Já parou pra pensar que é porque eles, ao invés de ficar esperando que o outro fizesse, sabiam que teriam eles mesmos de fazer a parte deles?

Ah, já sei. Você é um daqueles em estilo neo-bicho-grilo que acha que estilo é coisa pessoal, que não dá para julgar, que é coisa que vem da alma, é uma característica do espírito livre de cada um, é a expressão máxima de seu ser, e tudo mais.... Eu tenho uma notícia péssima pra você: você não serve para ser ilustrador. Infelizmente a realidade é essa. Seu cliente não vai engolir esse conversa regada a marijuana. Ninguém vai colocar um centavo que seja num trabalho cujo objetivo você sequer consegue argumentar de maneira objetiva.

Eu somente espero que vocês entendam uma coisa: os seus clientes querem ganhar dinheiro com o seu desenho.

Portanto, bom ilustrador é aquele que ilustra de maneira a auxiliar o sucesso das vendas de seu cliente.

Ilustrador genial é aquele que sabe auxiliar o sucesso de vendas de seu cliente com trabalhos de beleza e técnicas fora de qualquer dúvida.

Mas isso é uma coisa que você pode conseguir para você, desde que você queira por mérito e esforço próprios se esforçar para isso.

O nível técnico do mercado somente irá melhorar se cada um se esforçar para melhorar seu próprio nível técnico.

O nível cultural do mercado somente irá melhorar se cada um se esforçar para melhorar o seu próprio nível cultural.

O valor do trabalho somente irá melhorar se cada um de nós se esforçar para melhorar seu trabalho sua técnica, sua estrutura de trabalho sua consciência de mercado, sua consciência do que seu cliente precisa de você e querer ser útil ao seu cliente e se cada um de nós estudar mais, treinar mais, desenhar mais e mais.

Não adianta querer, sonhar, nem eu ficar aqui escrevendo textos quilométricos se eu em cinco minutos não voltar para a minha prancheta e me esforçar para que o trabalho realizado hoje seja melhor do que o trabalho que eu realizei ontem.

Se cada um de nós fizer exatamente a sua parte, o mercado não vai mudar, não para quem está no patamar que está, mas quem sobe de patamar pelo seu próprio esforço participa de mercados igualmente melhores.

O problema é que existe um grande número de profissionais num patamar baixo e sem esforço para elevar o seu próprio patamar de qualidade de trabalho, todo mundo vai continuar nesse mesmo patamar, com os clientes te tratando da forma como trata hoje em dia, porque os clientes serão os mesmos, mas a relação será outra.

Isso tudo significa que não é o mundo que muda pois o mundo é, quem muda somos nós, e dessa maneira mudamos a posição que tomamos no mundo.