2.5.09

Aprender a ilustrar

É preciso muita coragem para falar sem rodeios sobre o ensino nesse país. Eu digo coragem, pois existe muita gente que vê a realidade e justamente falta é a coragem para mostrar a realidade sem rapapés e sem maquiagem, sendo que a nossa realidade (ou pelo menos aquilo que se encherga facilmente) é resultado de inúmeros interesses sendo colocados à frente do único que ao meu ver deveria ser o interesse que movem as pessoas: o bem coletivo.

Muita gente defende instituições de ensino pois entendem que tiram dela seu sustento e ao ser obrigado a admitir que uma instituição de ensino não ensina coisa alguma, percebe que de onde provém seu sustento, também se ensina quase nada. Só que ao invés de procurar reverter a situação demonstrando hombridade e acima de tudo responsabilidade com o papel que supostamente deve desempenhar na sociedade, a pessoa procura a toda lei calar aquela voz destoante no meio da multidão que acorda a todos dessa hipnose medíocre que a humanidade vive, vendo nele um inimigo ao seu sustento fácil.

Já pensou se todos descobrirem que o que se ensina naquela escola é uma farsa o que pode acontecer? A escola fecharia, ou se não quisesse fechar teria que modificar sua estrutura de maneira radical a começar a ensinar. Só que ensino não dá dinheiro, ensino não permite andar de carro importado, viajar para a Europa todo ano, não permite luxos e nem conforto, e sinceramente, se os donos das instituições de ensino quisessem fazer caridade, iriam montar um orfanato e não uma escola.

Edifícios luxuosos, confortáveis, com ar condicionado, mesas e cadeiras novas costumam pecar pela falta, falta de material igualmente luxuoso confortável e espaçoso para preencher e desenvolver nossos cérebros.

O sistema de ensino no Brasil gera autômatos, os meios de comunicação geram autômatos, os sistemas geram autômatos. Autômatos que vivem na matrix comendo seu Mcdonalds e assistindo novela das oito, felizes da vida. Vão dormir para sonhar com a gostosa do BBB e acordam com R$1000,00 negativos na conta corrente. Trabalham por um belo e gordo pedaço de pão e sonham com o dia em que não terão que fazer nada da vida, somente viver de renda, talvez ganhando na megasena acumulada, talvez arranjando uma boquinha no governo, mamando nas tetas do estado, ou quem sabe escrevendo um livro que exija pouco neurônio, mas que renda muitos dividendos par ao resto da vida.

Bem vindo ao mundo de Marlboro. Venha aonde está o sabor.

Aprender cansa, dói, é chato, não diverte. Sem contar que se eu estudar pelo menos um pouquinho, eu estarei na frente dos trouxas e poderei explorar todos eles, pra que ensinar o outro a pescar, eu pesco meia hora por dia e vendo meu peixe a peso de ouro. Se o outro souber pescar eu morro de fome! Eu é que não me esforçar para aprender, o pouco a mais que eu sei me é suficiente, basta deixar a boiada feliz.

E é assim que todos vivem, como se fosse uma manada, imbecil e sem vontade própria. Acham que cocô na latinha é arte, acha que Ivete Sangalo canta, acha que novela é uma expressão genuína da identidade brasileira em forma de arte. Acredita na Veja, na Folha de São Paulo, acredita em Papai Noel, e em Papai do céu.

É devoto de Santo Expedito. Só fica feliz se tiver tênis Nike e calça da Fórum. Sonha com um carro do ano. Passa o final de semana enfiado no boteco enchendo a cara, ouvindo pagode e música sertaneja ou assistindo Domingão do Faustão e ainda diz: isso que é vida!

Ou então rouba porque nunca pode estudar, melhor virar bandido que dá menos trabalho.

Tem gente então que passa a vida estudando só para poder virar doutor e roubar sossegado o dinheiro alheio.

A vida é curiosa amigo.

Nesse mundinho do cão, ensino superior que não ensina nem o inferior é de menos. Ilustrador morrendo de fome é menos ainda.

Só que esse mundinho cão, feito para a aparência demonstra todos os dias, nas mais diversas áreas, que a matrix dá mais pau do que o Windows. Aí todo mundo percebe que parafraseando o Caetano "alguma coisa tá fora da ordem".

E tá mesmo, até o Caetano já entrou no esquemão... Mas mesmo assim algo fede só que ninguém sabe onde está a porcaria.

E a gente sente o fedô mais forte que nunca, percebendo que pelo menos na nossa área existe mais porcaria do que coisa boa.

Só que a porcaria faz parte do todo.

É o que fede no diploma, é o que fede no curso, é o que fede no cliente que te pede trabalho de graça. É o que fede no concorrente que faz meia boca e cobra mais meia boca ainda.

É o que fede por não querer aprender.

Aprender, estudar, isso torna o ilustrador profissional. E se houver alguma proposta verdadeiramente boa e que vise ensinar as pessoas a se tornarem ilustradores, então eu apoio a iniciativa, seja cursinho, oficina, ou curso superior. Vaja voc6e que não precisa ser obrigatoriamente APENAS um curso superior.

Lógico que haver interesse em criar cursos para formar ilustradores é um bom sinal, a algum tempo percebemos esse interesse. Só que é preciso um certo carinho para que a coisa não caia na vala comum.

Agora curso superior só para virar estatística fantasma, como a mais de dez anos o sistema de ensino brasileiro faz, eu, pelo menos estou fora.

Porcaria por porcaria, fica tudo do jeito que está.

Agora, ser comprometido com "ensinar" é algo que independe de diploma, independe tanto que qualquer curso superior que pretender realmente ensinar e formar uma pessoa ilustrador conseguirá fazer isso. Basta querer.

É nisso que eu aposto.

Emporguei.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu recado, faça sua observação, crítica ou sugestão.