26.8.10

Detalhes singelos sobre o Universo do Direito Autoral

Em meio as discussões sobre as possíveis mudanças na Lei de Direitos Autorais, um detalhe povoa a minha mente e me tira o sono: Os ilustradores sentem todo o santo dia que muito mais empresas pagam e tratam melhor e destinam mais trabalho para empresas que ilustram do que pessoas físicas que fazem ilustração, exceto as empresas que já tradicionalmente trabalham com ilustração, como por exemplo as editoras; sendo que um ilustrador, ao abrir uma empresa terá, obrigatoriamente que “abrir mão” de ser autor, porque não fazer com que, através da LDA, seja permitido ao ilustrador abrir uma empresa responsável por gerenciar seus direitos, como um empresa destinada a gerenciar os Direitos de Autor de seus sócios?

Aí que a coisa ferve.

Não existe, até o momento, NENHUMA argumentação capaz de rebater essa pergunta.

Ao levantar esse questionamento no grupo de representantes de associações que redigiram o material a ser entregue a um representante do Ministério da Cultura, a advogada do grupo respondeu a seguinte coisa:

“Para esclarecimento de todos, autor sempre é (e será) uma pessoa física, pois uma pessoa jurídica não cria nada. Não pode haver confusão entre autor e titularidade. Autor é toda pessoa física que cria algo e titularidade é aquele que detém os direitos sobre esse bem. Assim, no caso de uma ilustração, a autoria da obra sempre é de uma pessoa física, que poderá ser o titular ou não dos direitos sobre a obra que criou. Por que? Porque o autor, pessoa física, pode transmitir essa titularidade a uma outra pessoa física ou a uma pessoa jurídica.

O que está previsto na lei autoral vigente e no artigo 2 do Anteprojeto de alteração da lei autoral NAO DEVE SER ALTERADO OU ACRESCIDO, pois no caput do artigo 2, foi mencionada a pessoa física, que como criadora, é titular dos direitos autorais sobre a obra criada e quanto à pessoa jurídica, embora não seja criadora de uma obra intelectual, pode DETER A TITULARIDADE de uma obra, a qual se dá por meio de contrato de cessão de direitos e em conseqüência, como titular, gozará da mesma proteção que a lei outorga aos criadores de obras intelectuais,ou seja, será detentora de todos os direitos sobre essa obra, inclusive os autorais.”

Isso significa para mim, que uma grande empresa de comunicação pode através da cessão de direitos negociar o meu trabalho, mas eu não posso. Ou então eu terei que, a cada trabalho que eu fizer, redigir um contrato de cessão de direitos para a minha empresa dando a ela plenos poderes para negociar o meu trabalho.

Será que está escrito: Babaca na minha testa?

Se a cessão realmente for acatada pelo Minc, como a MINHA empresa poderá ter poderes para negociar os direitos do MEU trabalho?

Aliás, se eu posso ceder os direitos de meus trabalhos cedendo eles por contrato, cada vez que eu realizar um contrato, porquê não criar um mecanismo automático para isso, como uma empresa, com código CNAE que faça isso automaticamente?

Eu sou o banana da história?

Desde que a Lei de Direitos Autorais entrou em vigor, aliás, desde antes disso, as empresas contratam “empresas” para realizar seus trabalhos de ilustração, quadrinhos institucionais, etc.

Por que essas empresas contratam empresas?

Porque empresas emitem nota fiscal. Uma nota fiscal relativo a uma história em quadrinhos institucional que custou R$ 25.000,00 entra na contabilidade de uma empresa numa boa, como se fosse a compra de equipamentos, móveis, etc. é encarada como uma aquisição ou investimento da empresa em benefício próprio.

Agora, um autor não emite nota fiscal. Curioso é que até aonde eu sei o único imposto que um autor não paga é ISS. O fato de não pagar ISS ao meu ver não é justificativa para não emitir nota fiscal. Na verdade um autor não emite nota fiscal porque ele não pode ser empresa.

Aí a mesma empresa vai aceitar apenas um simples recibo no valor de R$ 25.000,00 pelo mesmo trabalho? alguém acha que uma empresa vai conseguir justificar junto ao seu departamento fiscal que torrou essa grana com uma pessoa física?

Ao querer que um ilustrador tome a atitude de bater o pé para que a cada grande projeto que ele puder pegar a empresa que o contrate aceite apenas um recibo de pessoa física está forçando o mesmo ilustrador a perder o trabalho e o cliente para sempre. Estamos forçando o mercado a ser cada vez menos profissional. Os ilustradores se restringirão a fazer trabalhinhos menores, consequentemente que paguem menos, não conseguir manter uma estrutura profissional muito especializada e retroagir todo o seu processo profissional. Não haverá mais estúdios de ilustração, com estagiário, assistente de arte, secretária, etc. Somente será viável ser ilustrador se o mesmo trabalhar dentro de casa.

Esse é o caminho do profissionalismo? Esse é o caminho que os ilustradores precisam para serem profissionais com mais preparo para atender o mercado? Esse é o perfil que as empresas que contratam serviços de ilustração precisam e se sentem mais confortável de contratar um ilustrador?

Existe uma coisa chamada evolução. E o sistema adotado e pregado por advogados, juristas e “especialistas” na LDA, mas que não vivem dela, incentiva justamente o contrário.

Como querer que profissionais como nós sejamos cada vez mais profissionais, cada vez mais preparados, cada vez mais especializados se a principal forma de incentivar esse aumento de profissionalismo que é permitindo que autores abram empresas para gerenciar os direitos autorais de seus trabalhos de maneira que essa possibilidade não seja repleta de burocracia não é sequer levada em conta?

Agora, outra coisa que me tira o sono: por que uma grande rede de televisão pode negociar os direitos autorais de minhas obras e eu não posso ter uma empresa para isso?

Por que um grande grupo editorial pode negociar os meus direitos autorais e eu não posso ter uma empresa para isso?

Por que uma empresa de grande destaque no mercado de entretenimento tem poder para negociar as minhas obras e eu não posso?

Por que empresas que não tenham sequer sócios que sejam autores pode negociar direitos autorais e eu não posso ser sócio de uma empresa que negocie apenas os MEUS direitos autorais?

Será que o meu ponto de vista é absurdo?

Será que eu estou criando uma tempestade num copo d'água?

Por favor, se você que ler esse meu texto concordar ao todo ou em partes com as meus questionamentos, eu peço, encarecidamente que não deixe essa discussão morrer.

Continue a questionar, comigo e com outras pessoas, porque é de extrema importância que esse vácuo possa ser devidamente preenchido. Toda questão que não seja devidamente esclarecida pode ser utilizada contra o nosso benefício.

Nossos clientes poderiam utilizar os nossos trabalhos com muito mais qualidade se pudermos trabalhar como autores e empresas, poderíamos nos aprimorar em desenvolver soluções mais completas, trabalhos mais bem acabados não só em termos técnicos, artísticos, mas também mercadológicos, poderíamos desenvolver trabalhos mais especializados em questões pontuais de empresas e em questões pontuais para a sociedade.

Será que manter uma coisa por um princípio lógico que na prática já não se insere no dia a dia da maior parte dos ilustradores e que impede a capacidade de evolução de nossos profissionais seria legítimo?

25.8.10

LDA e o nosso futuro como autores

Nessa semana temos o dever de consciência de focar as nossas atenções para algo muito raro, talvez nunca na história do Brasil houve algo similar e que influencia diretamente não somente ilustradores, mas também outros tipos de artistas, como escritores, músicos, compositores, etc. que é a possibilidade de influenciar a modificação da Lei de Direitos Autorais do Brasil.

Sabemos e sentimos na pele de alguma maneira que vivemos em um país aonde quase sempre as cartas já foram marcadas para que grupos de possuidores de um determinado poder perpetuem seu poder e ganhem com essa perpetuação sobre a energia de outras pessoas, mesmo quando essa outra pessoa seja detentora de criatividade e capacidade acima do comum.

Sabemos também que a atual Lei de Direitos Autorais, embora seja justa, contém uma falha prática que permite que grande grupos de comunicação se apropriem do trabalho de artistas inexperientes ou necessitados em conseguir trabalho ou divulgar sua arte através da sessão total por tempo indeterminado de sua obra, podendo assim ganhar inúmeras vezes sobre o trabalho do autor sem precisar repassar qualquer quantia ao verdadeira merecedor do trabalho e sem sequer consultar ao autor sobre a forma como será explorada a sua obra.

Paradoxalmente a nossa atual lei não permite de maneira alguma que nós, que trabalhamos criando e desenvolvendo arte, entretenimento e cultura possamos ter um empresa própria para gerenciar os nossos direitos de autor.

Segundo o meu ponto de vista esses são os dois principais problemas da LDA e vejo que o momento permite que possamos, caso cada um de nós entendamos ser de nosso interesse e para nosso benefício nos manifestarmos, solicitarmos, reivindicarmos mudanças que atendam aos nosso interesses e nos protejam garantindo que cada ilustrador, quadrinhista, cartunista, escritor, roteirista, compositor, arranjador ou produtor possa, caso em algum momento de sua vida crie uma obra de grande destaque, garantir que possa ele ter seu sustento garantido como forma objetiva e material de reconhecimento pelo seu mérito.

Devemos estarmos atentos a duas coisas nesse momento:

- A primeira é o endereço eletrônico da proposta do Ministério da Cultura de Modificação da Lei de Direitos Autorais, lendo, conhecendo a nova proposta, sugerindo modificações que visem beneficiar a nossa profissão e apoiando as propostas existentes que sejam a nosso favor. O endereço do site é: http://www.cultura.gov.br/consultadireitoautoral/

- A segunda coisa que precisamos fazer é reservar a manhã de sexta feira, 27 de Agosto para, às 9h00 estarmos todos presentes no Senac da Lapa, na Rua Scipião, 67, participando do evento que está marcado para ser a entrega do documento final de inúmeras entidade representantes de artistas visuais: ABIPRO, SIB, ACB, AEL-IJ, CEBEC, APROARTES e Sindicato dos Artistas Plásticos junto ao MinC.

Nosso foco principal é extinguir definitivamente a cessão total de direitos. Se você concordar com nosso ponto de vista, eu peço que se junte a nós.

Precisamos mostrar que nossos Direitos são apoiados pelos nosso profissionais e pelas pessoas que entendem que o autor precisa ser devidamente valorizado e protegido, para que a cultura de nosso país cresça e auxilie o surgimento de uma nação mais justa, culta, íntegra, com oportunidade para todos e com qualidade daquilo que se produz também culturalmente.

Se quiser, envie esse texto para quantas pessoas quiser!

Reserve a manhã dessa sexta-feira para uma boa causa, A cultura de um país inteiro agradece.

18.8.10

Para não fazer a bola da regulamentação cair

É fácil perceber que um assunto não tem gás para ir muito à frente, não porque o assunto em si seja irrelevante, como uns até fazem crer, mas porque muitos encontram grandes dificuldades em manter um fio condutor lógico capaz de manter começo, meio e fim.

Quando falamos em regulamentação para ilustrador, o que se vê é um mar de pensamentos desconexos, aonde algo se percebe sobre quais seriam os primeiros passos a serem dados, e algo meio desfocado se percebe sobre qual seria o destino a se chegar.

Mas precisamos compreender que, para se chegar a uma destino é preciso ter uma trajetória, e o importante, como diz um amigo meu advogado, é o "iter".

Quando falamos a palavra "regulamentação" devemos antes de mais nada compreender que a palavra em si não possui um significado definido 100% para todas as pessoas, e é bastante fácil perceber isso, pois mesmo entre pessoas que pensam nesse termo alguns imaginam restringir o acesso de novatos a uma profissão, outros de formatar uma formação, outro de instituir uma tabela de preços.

Só que regulamentação significa: instituir um conjunto de regras. Acabei de ver no Dicionário.

Não significa obrigar necessariamente obrigar todo ilustrador a ter formação acadêmica, ou ter seu trabalho avaliado para conseguir um registro de ilustrador profissional.

Isso apenas aconteceria se um órgão competente, representante de ilustradores assim entender e tiver apoio de sua base para isso,

Mas vejam vocês que estamos tratando apenas do ponto final da discussão que é a tal regulamentação.

O problema é que existe o ponto inicial e é preciso compreender aonde ele se situa,

Imaginem vocês um garoto de seus 14 anos que gosta de desenhar e sonha trabalhar com desenho. O que ele deve fazer? Qual caminho ele tem pra seguir?

Se ele estudar numa escola de desenho, vai virar um profissional da área? Existe curso técnico? Existe curso superior? No Brasil inteiro?

Pra quem ele vai trabalhar? Ele vai ser contratado por quem? Existe estágio nessa área? Aonde? Para ser um profissional de ilustração a gente consegue ser um funcionário, ou somente como profissional liberal? Pra ser profissional liberal basta saber desenhar?

Mas então eis que temos listas de discussões, o Guia do Ilustrador e revistas em PDF sobre ilustração. Parece que todos os problemas serão sanados por esses recursos.

Serão?

Depois dessas grandes conquistas, houve aumento no nível do técnico médio do trabalho dos ilustradores no Brasil? Houve aumento do salário médio dos ilustradores no Brasil? Houve um melhor direcionamento em termos de absorver novos ilustradores no Brasil? A concorrência entre profissionais se tornou maior ou menor? Diminuíram as ofertas injustas de trabalho de ilustração no país?

A resposta é uma só: ninguém sabe.

Pior do que se a resposta fosse um simples "não". A resposta é: num sei. Ninguém sabe e qualquer que seja a resposta tenham certeza de que tudo não passa de especulação. Sabem por quê? Por que não existe uma única forma de se medir isso.

Portanto, para o mercado ter uma direção é preciso haver uma forma de se medir, se se fazer estimativas, cálculos, pesquisas e montar o panorama profissional de nossa área, para depois, ao se medir (mesmo que os parâmetros de medição sejam imperfeitos) traçar objetivos para conseguir através dos mesmos parâmetros numéricos perceber indicativos provando que as ações tomadas surtem efeitos positivos.

Isso é o que toda empresa faz, o IBGE faz isso, o IBOPE faz isso, a Datafolha faz isso, mas ilustrador não faz.

Por que ilustrador não faz? Porque isso não é papel para ser feito por UM ilustrador, nem por UMA lista de discussão, é para ser feito por um órgão que tenha como objetivo coletar informações sobre a realidade de nossa profissão, mapear o panorama da nossa realidade e discutir ações capazes de fazer com que o panorama possa melhorar com o tempo.

Pra mim, isso já é um passo dado no sentido de uma regulamentação.

Mas para isso, é preciso haver união e não pessoas que apenas questionem, discutam e discordem. Enquanto não houver um meio, mesmo que imperfeito de auferir o panorama de nossos profissional todo e qualquer discurso sobre conquistas é mera propaganda infundada.

É preciso haver união, e acima de tudo é preciso haver um órgão que se responsabilize, dentre outras coisas, por isso.

Quando eu estava a frente da Abipro, eu pude na época criar alguns gráficos medindo o grau de satisfação, expectativas e direcionamentos entre os profissionais de nossa área, tanto é que eu cheguei até mesmo a apresentar esses gráficos em palestras. Embora as pesquisas fossem falhas, eu mesmo comecei aos poucos a perceber um pouco o panorama de nossa profissão nesse país todo.

Muito do que eu percebi eu inclusive escrevi na mensagem anterior sobre o assunto, mas existem peculiaridade sobre nosso profissionais e principalmente sobre nossos profissionais iniciantes que vão além daquilo que eu já havia escrito, tanto em listas de discussões quanto no meu blog.

Por exemplo: existe um expoente crescimento de ilustradores entrando no mercado, embora os clientes para as ilustrações seja, no ponto de vista de todos, apenas editoras, agências e produtoras, e essas empresas não crescem na mesma proporção em que cresce o número de ilustradores no mercado. Os ilustradores acreditam haver espaço para eles apenas nos grandes centros urbanos do país, como Rio de Janeiro e São Paulo.

Tudo isso faz com que a profissão sinta uma tendência de pessimismo pois, esses dois centros urbanos precisam absorver o pais inteiro.

No entanto as empresas de comunicação, nossos clientes tradicionais não existem somente nesses dois centros, e os profissionais de ilustração precisam dar valor aos clientes locais. É muito fácil a gente ver as pessoas escrevendo coisas como: na minha cidade os clientes são tudo gente com cabecinha fechada,,, mas você como profissional de sua região, será que também não tem a sua cabecinha fechada? Se um cliente de São Paulo te contratar você faz, refaz, refaz de novo, serve cafezinho, manda link do seu site, envia cartão de natal, trata o cliente que é um mimo só, mas para o cliente da sua cidade você trata como se fosse um fardo. E quer ser tratado pelo cliente de sua cidade como?

Para ser valorizado é preciso valorizar. É preciso descentralizar. É preciso que os profissionais do nordeste trabalhem para empresas do nordeste, que profissionais do sul trabalhem para empresas do sul, que profissionais no centro-oeste trabalhem para empresas do centro-oeste.

Ah, mas no Centro-oeste tem pouco jornal, revista e agência. Mas tem muito o quê aí, afinal de contas? Tem muita agroindústria, fazendeiro... Então os profissionais dessa região precisam aprender a direcionar o seu trabalho para essa área. Simples assim. Ninguém vai reinventar a roda, só vai ter o bom senso de fazer algo que na minha cabeça é obvio.

No Nordeste também não tem tanta agência e nem editora... mas tem o quê? Tem bastante turista, tem hotel... Eu acho que não é preciso saber para qual setor a profissão precisa aprender a se direcionar, né?

Tem um grande amigo meu do nordeste e que vira e mexe a gente conversa sobre as dificuldades que ele tem aonde ele vive, e numa dessas conversas ele me disse que lá tinha turista para caramba, mas vivia brigando com cliente que não pagava, não dava valor pro trabalho dele e tal... Aí eu perguntei: e turista paga bem? E ele disse: paga né, mas eu não faço trabalho pra turista... Na hora eu emendei: Por que você não faz? Se é quem paga bem e tem um monte aí? Vai ficar até quanto perdendo seu tempo e sua saúde com cliente que paga mal? Aí deu um estalo no cara! Começou a desenvolver um trabalho de caricatura e retrato parecido com os lambe-lambes que são muito comuns no interior do nordeste, só que tiram foto. Ele ainda foi absorvendo no trabalho dele elementos visuais característicos da xilogravuras dos cordéis nordestinos e o resultado ficou sensacional!

O lance é ter cabeça e perceber o mundo a sua volta e não ficar sonhando com o que não existe, a oportunidade de se realizar profissionalmente pode estar nas características de sua região. Isso é uma coisa que uma associação poderia muito bem orientar. E deveria. Isso é regulamentar.

Se nos Estados Unidos os ilustradores da costa leste trabalham para o mercado de cinema enquanto que na costa oeste trabalham para propaganda, isso é uma dica que lá eles são o que são porque seus profissionais perceberam que não se rema contra a maré.

Aí tem gente aqui no Brasil que quer fazer quadrinhos. Qual a porcentagem da população brasileira lê quadrinhos? 0,1%? 0,01%? Tudo bem nem eu sei, mas sei que é muito pouca gente, disso eu tenho certeza, ninguém da minha família e amigos lêem quadrinhos. Tá bom, um amigo meu lê. Mas vamos acordar. Vocês não percebem que fazer quadrinhos no Brasil é um mal negócio? Não tem público...

Se você quiser, pode criar algum mecanismo que fomente a leitura de quadrinhos no Brasil, legal, é preciso ter números, criar algo com esse objetivo, criar uma meta e um prazo para essa meta ser cumprida. É assim que se faz.

Pode ser que a meta não seja alcançada, mas é assim que se faz.

Esse tipo de coisa é uma pequena parte de exemplos de se colocar ordem no galinheiro, como também formatar e orientar em como ter uma estrutura pequena mediana e grande de trabalho na nossa área, e assim por diante.

Aos poucos, com as coisas sendo colocadas em ordem, o grau e a probabilidade das injustiças ocorrerem, assim como a melhora na remuneração, diminuição da concorrência desleal irão se abrandando. Agora isso não é coisa que se consegue com um lista de discussão e nem com um guia do ilustrador.

É preciso mais do que isso, mas é preciso haver união repito novamente, seriedade, consciência de grupo, consciência global, visão estratégica, tudo isso concentrado em um órgão, seja ele uma associação, clube de ilustradores, que possa ser encarado por todos como uma casa que acolhe a todos indiscriminadamente e não como um opositor, um inimigo a ser batido, não como um lugar feito para que uns e outros sejam endeusados.

As várias iniciativas, como SIB, ABIPRO, Bistecão, Ilustragrupo, ImagoDays, ACB, GRAFAR, UNIC, grandes comunidades de desenhistas na net, devem aprender a ser fraternas, encontrarem seus caminhos , se unir, se ajudarem mutuamente, fraternalmente e entenderem de uma vez por todas, ninguém é inimigo de ninguém, não somos opositores uns dos outros, temos objetivos em comum e precisamos fazer com que haja espaço para todos, todos os profissionais tenham seu espaço, mas para isso é preciso ter regras justas e claras, e mesmo que essas regras não sejam uma tabela de preços ou um registro para poder trabalhar como ilustrador, e isso, mesmo assim já é uma regulamentação.

17.8.10

Para ser contratado

Muitas vezes nós recebemos e-mails de iniciantes querendo ser da nossa equipe, procurando emprego, estágio, freelancer, ou qualquer coisa do tipo.

Muitas pessoas nos procuram com links bem legais, sites organizados, bonitos e funcionais, ou blogs transados de visual interessante. Alguns mandam links de páginas de comunidade de arte que demosntram que esse povo todo está ligado, antenado no que rola em termos de arte.

Existe muita gente que envia trabalhos realmente impressionantes, em estilos e linhas muito bem resolvidas, e outras pessoas que logicamente demonstram precisar de algum amadurecimento para se lançar no mercado.

Os últimos descritos acima são foco de muito texto que visa orientar novatos na internet, e eu mesmo já escrevi muita coisa voltada para eles e pretendo continuar escrevendo ainda mais coisas para orientar.

No entanto o meu foco hoje vai para esse primeiro grupo,

São pessoas que já tiveram alguma experiência profissional, mas que sente grande dificuldade em se estabelecer no mercado por não achar uma oferta tão vasta assim para trabalhar.

Eu já vi muita gente com um desenho de tirar o fôlego, muito caprichado, muito bem resolvido, algumas ilustrações tão vivas em impressionantes que chega a dar a impressão que esse pessoal não precisaria vir bater na nossa porta para procurar trabalho.

Só que, paralelamente a essa qualidade toda, quando a gente vai analisar de maneira mais funcional, eu mesmo percebo um grande problema: são estilos muito bem resolvidos, mas estilos definidos necessitam de demanda.

Sim, o fato de você ter encontrado um estilo, principalmente se o seu estilo for muito característico pode ser um grande tiro no pé na hora de procurar trabalho.

Eu explicarei.

Você ficou muito tempo decidindo uma linha, uma técnica, uma forma de resolver a questão de se desenhar e ter uma identidade. até que achou algo bem diferente daquilo que todo mundo faz. Como "artista" você fez sua licão de casa perfeitamente, mas como profissional você deixou muita coisa de lado.

Em primeiro lugar, se aquilo que você faz é diferente, como você quer que alguém queira consumir aquilo que não conhece, e por consequencia não precisa?

Não dá para eu, como um profissional de um estúdio de ilustração pegar um iniciante que desenvolveu "um" estilo marcante e colocar no portfolio do meu estúdio para vender o trabalho, se o mercado não conhece o estilo, e ninguém, absolutamente ninguém sabe se o mercado irá absorver esse estilo.

Eu, pessoalmente defendo a idéia de que o estilo é o resultado da formação, mais a necessidade de mercado.

Esse é o ponto nevrálgico em nossa profissão. Você sabe se o estilo que você está procurando desenvolver tem alguma relação com o estilo que os clientes ou o consumidor quer ou procura?

Curiosamente, 100% desses profissionais de trabalhos impressionantes são baseados em desenhos cômicos, cartuns, desenhos infantis, etc. Não apareceu até hoje para mim um único iniciante na profissão que dominasse o desenho realista.

Eu estou me referindo ao desenho realista mesmo, aquele que é uma cópia daquilo que se vê. Hoje em dia você até ve um ou outro que domina com uma certa destresa técnicas de um pretenso desenho realista que não é, nada mais, nada menos do que uma cópia de estilização utilizada em histórias em quadrinhos norte americanas.

A anatomia é completamente distorcida. Detalhes são desenhados minuciosamente com soluções gráficas proveniente das técnicas de impressão em preto e branco antigas aonde os trabalhos eram finalizados com nankim. E aí algumas peculiaridades foram desenvolvidas para poder se trabalhar com alguma autonomia no nankim, pincel, pena, para uma impressão tecnicamente bastante primária.

Hoje em dia, com a tecnologia existe a possibilidade de se absorver na ilustração realista toas as nuances presentes nas escolas de pintura, desde o renascimento até o realismo, mas pelo menos no Brasil a impressão que eu tenho é que os novatos são analfabetos dessa formação.

Os nossos iniciantes gostam de quadrinhos da Marvel, DC, mangá, desenhos da Pixar, curtem de repente um Robert Crumb, alguns mais descolados também se influenciam por Moebius, Manara e desenhos que passam no Cartoon Network e Nickelodeon, e isso é tudo.

99,999% de tudo oque se procura reproduzir no Brasil por iniciantes nas escolas de desenho é a cópia de uma demanda de ordem mundial, mas com pouca demanta interna.

Quando esse povo todo se forma, vai desenvolver estilos derivados dessas influências. Acontece que toda essa influência já é um reprocessamento de informações gráficas anteriores.

Para se focar profissionalmente é preciso dominar aquilo que vem antes de toda essa gama de trabalhos do mercado mundial, e o que vem antes de tudo isso?

O desenho classico.

A formação clássica de desenho é fundamental, pois através dos cânones, proporções criteriosas, regras e fundamentos rígidos e que exigem muita disciplina existe a possibilidade de se fazer absolutamente tudo em termos de desenho.

Não existe uma única linguagem, uma única técnica, um único estilo que não possa ser resultante dessa formação.

Eu sei que existem estilos de trabalho que não exigem necessariamente esse tipo de formação.

Só que essa formação, desde que sólida, permite ao iniciante ter uma pasta com domínio de, no mínimo, desenho realista.

Uma pessoa com essa formação pode não ter um portfolio tão modernoso, ou trabalhos estilosos tão impressionantes logo de cara, mas demonstra uma qualidade que para um profissional iniciante é fundamental: potencial.

Quando uma empresa ou um estúdio analisa o portfolio de um profissional iniciante, o que se busca não é um profissional formado e maduro com controle absoluto do seu trabalho, mas um iniciante com potencial de crescimento, e esse profissional é demonstrado numa formação sólida que possibilite ao seu contratador direcionar o iniciante para uma técnica ou estilo conforme a demanda for aparecendo no mercado.

Essa é a grande diferença.

Nós não decidimos e não podemos dicidir como ditadores o que os nosso clientes irão comprar em termos de trabalho, mas precisamos observar as necessidades que eles tem no mercado para oferecer em termos de estilo e técnica o que pode atender suas necessidades.

Eu, me colocando no lugar dos profissionais que já investiram treinamento, estudo e tempo para amadurecer seus estilos sei o quanto é desanimador ler algo como o que eu acabei de escrever, mas o mundo não vai ter dó da gente ou contratar o nosso trabalho por compaixão, para acertar é preciso tentar, e, algumas vezes, errar. Só que é preciso não desistir e reiniciar quantas vezes forem necessárias.

Eu vejo portfolios com inúmeros estilos cômicos e infantis, uma ora feitos no photoshop, outra hora feito só no desenho vetorial, algumas vezes misturando essas duas linguagens, em outras vezes desenhados no lápis, canetinha, pincel, pena, gravura, etc.

Como alguém que pode contratar uma pessoa, me sentiria muito mais confiançal vendo um protfolio com desenhos realistas bem feitos, no lápis, depois finalizados, seja numa aquarela, no photoshop ou no vetor, numa gravura, com pena e alguns exemplos de desenhos cômicos, feitos uma hora no hpotoshop ou no vetor, usados em técnicas tradicionais. Uma pasta assim demonstra que o iniciante tem uma formação básica, já está tentando descobrir novas linguagens e que tem potencial para desenhar em outros estilos.

Outra coisa também bastante um em portoflios já "fechados" é que podem dar ao contratante a impressão de que você não é maleável, só faz "aquilo" e não aceita negociar algo diferente.

Um portfolio, seja digital ou pasta aonde a pessoa demostre que um estilo é preponderante e fechado não me passa a segurança que eu possa contratar a pessoa e pedir a ela fazer trabalhos que não sejam parecidos com aquilo que se encontra no seu portfolio e nem eu e nenhum outro cliente meu quer, quando precisa de um trabalho, ficar arriscando ter dor de cabeça ou não.

Contratar um ilustrador iniciante com um estilo determinado, por um estúdio significa apostar que haja demanda naquele estilo. Isso significa que a probabilidade de um ilustrador iniciante com essas características ser contratado é muito pequena.

Eu espero que esse texto sirva de resposta a inúmeros iniciante que já nos procuraram anteriormente e nós não respondemos. Eu nem teria o que dizer numa resposta a profissionais com esse perfil, pois eu sei que são pessoas que já caminharam um pouco, já iniciaram a sua caminhada profisisonal e não está exatamente no ponto zero, alguns não aceitam críticas contrárias, mesmo se for pensando em orientar. Eu somente gostaria que as palavras que eu coloquei nesse texto possam apenas direcionar alguns portfolios para uma tendência diferente da que eu venho percebendo atualmente.

16.8.10

Ainda sobre a regulamentação

Vira e meche nas comunidades, listas de discussão e rodinhas de profissionais volta o tema "regulamentação da profissão".

A um tempo atrás, vimos em alguns locais virtuais esse tema voltando, e parecia que enfim, as discussões iriam desencantar em alguma coisa.

Todos nós, (eu inclusive) sofremos de um grande mal, que é a falta de capacidade de manter o interesse em assuntos sérios entre nossos pares por muito tempo, com capacidade quase nula de levar um assunto sério a conclusões mais elaboradas.

Às vezes eu acho que sofremos de algum tipo de distúrbio de défict de atenção, mas o problema maior nem é esse, mas o fato de que esse problema não atinge 100% de nossos profissionais, eu mesmo já conheci muito ilustrador com um grau de lucidez capaz de fazer com que muito jurista, empresário e formador de opinião ficar boquiaberto. O problema é o restante de nossos pares parecem não perceber que existe alguém ao nosso lado com essa lucidez toda.

Uma coisa que também deve ser levada em consideração é que a capacidade racional de uma pessoa nem sempre é acompanhada pelo talento como artista, e tem muita gente que embora não tenha se destacado tanto como grandes gênios do traço são verdadeiras crânios no que diz respeito a forma de compreender o mundo a sua volta, o mercado que fazemos parte e capacidade de interagir no meio com domínio.

O problema é que nossos amigos de traço costumam ter ouvidos mais abertos para os ilustradores que tem o portfolio mais exuberante ou são mais bem sucedidos profissionalmente, e nem sempre um portfolio com trabalhos bonitos acompanham uma capacidade estratégica, visão panorâmica de uma situação ou lucidez tão apurada. Mesmo porque os profissionais mais bem sucedidos sentem bem menos motivos para desenvolverem sua capacidade de questionamento ou seu interesse por questionar e querer mudar as regras do jogo, uma vez que eles se adaptaram bem ao mundo como ele é, estão "ganhando" o jogo da vida com essas regras miseráveis que nós vivemos e não tem tanto interesse em mudar as regras.

Acho que todo mundo já viu em algum lugar a frase: em time que está ganhando não se mexe. Pois bem, os grandes espoentes de qualquer segmento são aqueles que melhor se adaptaram as regras do jogo, melhor porveito sabem tiras das peculiaridades, justas ou injustas dessa nossa vida e não sofrem na pele os desabores da dificuldade de se ajustar ao sistema.

Numa sociedade egocêntrica como a nossa, esse problema acaba muitas vezes se agravando mais ainda, pois existe um número muito grande de pessoas que olham apenas para si mesmo e não percebem que na mesma realidade em que vivem muita gente sofre, e sofre mais do que seria aceitável.

O que eu quero dizer é que somente tem interesse em mudar o mundo pessoas embuídas de um grande sentimento de altruísmo ou pessoas que não venceram na vida. Querer que um grande nome do mercado mude os rumos para beneficiar a todos é uma visão de mundo infantil, infelizmente, eles não entendem que o mercado precisa mudar.

Mesmo porque até mesmo as pessoas que se encontram na base da pirâmide profissional, quando, por algum motivo se vê em melhores condições de vida, automaticamente perdem interesse em querer que o sistema mude. e essa falta de interesse em mudanças costuma ser proporcional ao grau de adaptabilidade que a pessoa encontra, salvo excessões de pessoas com comportamento genuinamente altruísta.

Nosso mercado é bastante bagunçado, mas as pessoas que se adptaram a bagunça generalizada e tem bons clientes, pega bons trabalhos, não se sentem tão incomodadas com as injustiças características de nossa realidade. Algumas até mesmo podem acreditar que a desorganização profissional que atinge o restante é um bom negócio, pois permite que quem está no topo não precise se preocupar tanto em manter a sua liderança e hegemonia mercadológica. Vivemos num país aonde a camada dominante gosta de escarnecer daqueles que estão abaixo por sua ignorância e entendem que manter os que estão abaixo na ignorância em que se encontram irá permitir a perpetuação de seus domínios.

Não percebem que, na verdade acreditram ser eles mesmos pessoas de menor capacidade, pois todo aquele que reconhece em si uma superioridade na capacidade intelectual, moral e social não se importa em permitir os que estão abaixo de si ter acesso ao conhecimento, cultura e educação. A diferença é que aonde os que estão embaixo tem educação, cultura e conhecimento criam sociedades com menor grau de conflitos.

Vivemos num país aonde o nosso mercado, o de ilustração, sofre muito com uma grande série de problemas, temos uma sociedade que supervaloriza a tecnologia e menospreza a cultura, aonde as pessoas dão muita importância a rapidez com que uma coisa é feita ao invés de se importarem com a qualidade dessas mesmas coisas, existe um culto a facilidade e praticidade de maneira desmedida. Esses pontos são percebidos principalmente em meios de produção dinâmica, como uma espécia de reflexo da necessidade que temos de produzir coisas cada vez mais rápidas, mais simples, mais funcionais, diretas, e baratas.

Na ilustração, o que nos deparamos é com o reflexo dessa realidade. Hoje em dia é muito comum ver conflitos de prioridades, tanto entre clientes potenciais quanto entre profissonais de ilustração. Existem clientes que valorizam a qualidade acima de tudo, mas uma parcela muito grande é incapaz de perceber que à partir de um determinado padrão visual, existe a capacidade de se atingir uma qualidade muito maior. Muita gente acredita que chegando num ponto, o que houver à mais é desperdício, desperdício de informação visual, frescura, motivo apenas para aumentar custos.

Esse é um sintoma que não reflete simplesmente a desvalorização do ilustrador ou da ilustração, mas a popularização, a massificação da ilustração. Quando existiam meia dúzia de clientes para ilustração, também existiam meia dúzia de ilustradores. Essas empresas tinham demanda por importarem um sistema profissional de outros países que já tinham a cultura de ilustração, e exigia antes de mais nada qualidade, e quanto mais qualidade, melhor o pagamento. E essas empresas sabiam que qualidade gerava retorno financeiro na outra ponta.

O que aconteceu é que desde sempre a quantidade de ilustradores oferecendo seus trabalhos no mercado teve um crescimento maior do que a quantidade se trabalho de ilustração para ser feito, e segundo a premissa básica de que quanto maior a oferta, menor o custo, naturalmente o nosso trabalho foi perdendo valor de mercado.

Quando apareceu o computador permitindo a ilustração digital, a quantidade de clientes potenciais de ilustração aumentou esponencialmente, e uma quantidade de clientes que, ao contrário dos primeiros, nunca tiveram uma cultura de ilustração importada de lugar nenhum, e a ilustração se tornou um acessório. São empresas que nunca imaginaram pagar R$10.000,00 por um mascote, mas quer um mascote; nunca irá pagar um valor desses nem em equipamento, quanto mais em um mascote.

Junto com essa quantidade de clientes, aumentou e em número ainda maior a quantidade de pessoas que se tornaram ilustradores, em proporção ainda muito superior a quantidade de clientes. E curiosamente esse exército de ilustradores também não tinham uma cultura de ilustração, sua cultura é semelhante a cultura dos novos clientes. Dessa maneira a popularização da ilustração foi feita com a popularização do profisisonal em grau ainda maior. Em alguns anos, o número de profissionais em nossa área saltou vertiginosamente.

Grande parte desse salto também se deu pelo fato de que muitos mercados que podemos considerar periféricos se saturaram, como o mercado para Diretores de Arte nos anos 90 e de designers na primeira década de 2000. Os profissionais que tinham grande dificuldade de se encaixar em suas profissões originais viram no mercado de ilustração um terreno fértil. Atualmente uma pessoa com R$ 2.000,00 no bolso se encoraja em montar um esquema para trabalhar com ilustração. A uns dez anos atrás esse valor mínimo para ser um ilustrador bem básico corria por conta de uns R$ 5.000,00, a quinze anos esse valor mínimo já era por volta de R$15.000,00 e a vinte anos era algo em torno de R$ 30.000,00.

Pode parecer que esse tipo de coisa não tenha qualquer ligação com o tema, mas o baixo custo para uma pessoa ter um esquema físico minimo para trabalhar e um portfolio permite que mais pessoas ingressem no mercado. E quanto maior a oferta...

Agora, esse panorama pode parecer bastante desanimador a primeira vista, mas para que não se cumpra uma tendência de piora com o tempo, somente um caminho deve ser levado em consideração: a regulamentação.

Os problemas são reais e já existem no mercado, mas o maior problema gira em torno da diminuição da qualidade dos profissionais, em muitos pontos, e uma ação conjunta poderia antes de mais nada fortalecer a qualidade do ilustrador como profissional, para depois fortalecer as ações conjuntas dos ilustradores, resultando como consequência num mercado regenerado.

Isso significa que regulamentação não se reduz a haver um dia do Ilustrador, ou a se ter um código CNAE específico para ilustrador, ou haver uma formação superior regular no país, mas um conjunto de ações, aonde haja a possibilidade de, a cada passo, os profissionais serem melhor preparados e oferecer um produto final de qualidade que force o mercado a se corrigir, tornando ilustradores melhores preparados em empresas, que por sua vez permitam que iniciantes possam ter uma caminho natural de inserção no mercado e diminua a disparidade entre os profissionais. Hoje em dia existe tanta diferença em nossa profissão que você encontra ilustradores que trabalham no quarto dos fundos de casa concorrendo com ilustradores com endereço comercial fora de casa, secretária, office boy e tia do café.

Acontece que para chegarmos a uma mudança quais seriam os passos? Será que alguém já chegou a estudar o que seria necessário?

Eu, juntamente com um grupo muito bom, a algum tempo atrás, passamos meses e meses reunidos na pensando quais seriam esses passos.

Tudo começou quando eu fui convidador pelo ilustrador Grego a fazer alguma coisa que pudesse incitar as pessoas a trabalharem em prol de uma regulamentação. Procuramos alguns políticos e tivemos algumas orientações.

A primeira orientação que tivemos era que se somos profissionais de uma determinada área, para conseguirmos qualquer coisa a nosso favor, precisamos ter um organização legal. Seja uma sociedade, associação, clube, ou qualquer coisa que possa representar nosso grupo. Seria necessário que essa entidade tivesse o objetivo claro de buscar a regulamentação, pois ela, para existir precisaria de tempo e precisaria contar com pessoas focada no objetivo.

Criamos então o Dossiê do Ilustrador e aguardamos por mais de um ano até que percebêssemos que havia entre nossos pares uma quantidade suficiente de pessoas capazes de se focarem nesse objetivo para conseguir alguma coisa específica. Num momento em que acreditamos ser o ideal, tornamos público esse documento e pedimos que qualquer pessoas, empresa ou entidade de ilustradores que tivesse interesse em continuar a conversa nos procurar para que pudessemos discutir ações reais.

Algumas pessoas se juntaram a nós, e por uma grata surpresa, percebemos que muitas delas tinham uma capacidade enorme de auxiliar a essa empreitada como se já tivessem prontas para isso. Como nenhuma asociação na época se importou conosco, então decidimos criar uma associação que pudesse representar a todos os profissionais, e assim focar as atividades em nome dessa associação, aonde todos pudessem criar ações, iniciativas variadas, discussões, palestras, exposições, banco de dados, debates, parcerias e convênios, debaixo de uma bandeira só.

Por isso foi criada a ABIPRO, que tem como único e exclusivo objetivo ser o meio aonde será possivel haver as conquistas para a nossa regulamentação.

Nessa época sabíamos que apenas criar uma associação não bastava, era preciso que ela tivesse uma atividade constante, para que as pessoas associadas a ela se habituassem, com o tempo, a se sentirem parte de um corpo, pois para lutar em benefício de conquistas é preciso ter o apoio daqueles que procuramos representar.

Propusemos que tivéssemos um encontro informal entre os associados para que houvesse uma integração entre todos, que houvesse uma lista de discussão para ser o canal principal de troca de informações e aprendizado entre os associados. Propusemos um site repleto de informações para que o associado se sentisse parte de um grupo. Propussemos organizar exposições para que os associados pudessem mostrar seus trabalhos e para que houvessem oportunidades de discutir assuntos pontuais visando lá no fundo amadurecer os profissionais para a conquista daregulamentação.

Propusemos, que depois de se conseguir isso tudo, que pudéssemos reivindicar um Dia do Ilustrador, para como crupo ganharmos força e representatividade junto aos políticos para, com o aprendizado dessa experiência, podermos ter força para pedirmos o reconhecimento com código CNAE próprio e posteriormente, caso fosse entendido que seria realmente importante continuarmos até a regulamenteção definitiva, que ela fosse perseguida de maneira consciente.

No entanto, muita gente não acreditou em nós. Não nos compreenderam. Encontramos muitas pessoas que se colocaram como nosso inimigos. Acharam que a nossa intenção era rivalizar com a SIB, que a minha intenção era ter súditos e seguidores, que essa associação servisse a interesses pessoais, a satisfação de egos ou ao acumulo de poder e influência.

Muita gente combateu cada iniciativa como se fosse indispensável exterminar a capacidade dessa associação ter vida própria. Me desulpem vocês que pensaram sermos nós seus inimigos, mas você não conseguiram entender e eu muito imbecilmente não consegui me fazer entender.

Meu maior erro, no entanto foi o de estar a frente e não saber lidar com os obstáculos que apareceram, e de não ter o equilíbrio necessário, e até mesmo a malandragem para contentar a todos, a paciência para esperar o momento de realizar e a ponderação necessária para, em momentos extremos não jogar tudo para o alto.

Eu sei quanto eu ofendi as pessoas que estiveram ao meu lado e quanto eu, achando que estava sendo justo, fui injusto e somente peço a todos, não simplesmente perdão por também ter atrapalhado uma coisa que era para ser de benefício de todos, mas peço que, se alguém ainda hoje realmente quiser continuar a trilhar o caminho para a regulamentação, que utilize o instrumento que já foi feito para isso e está a mais de um ano parado, e se não for utilizado com esse propósito, não terá qualquer utilidade, pois não é propriedade de absolutamente ninguém e não foi criada para rivalizar e nem para excercer influência sobre ninguém.

Gostaria, no entanto de agradecer meus companheiros de jornada durante essa época: Grego, Tuco, Rice, Iriam, Silvana, Eldes, Mancuso, Paulo Borges, Henrique, Alcode, Faoza e outros companheiros que apareceram ao longo do tempo, dizer que sem vocês nada teria sido feito, pois eu mesmo pouco ou nada tenho ou tive de capacidade de realização e sinceramente dizer o quanto eu sinto por, pelo meu comportamento, ter afastado vocês do caminho que havíamos traçado desde o início e assumo a responsabilidade e a culpa de não termos conseguido o nosso intuito.

Em todo caso, quem quiser levar o idéia adiante, se quiser utilizar a Abipro para isso, deve fazer por uma razão lógica, mas se não quiser não precisa, mas vai ter que abrir outra associação. Em todo caso, todas essas pessoas que eu mencionei tem conhecimento de causa, sabem contribuir e podem ser de grande valia de todos.

Da minha parte, permanecerei ainda no meu canto e desejo à todos sucesso e que sejam bem sucedidos.