12.7.10

Ensaio sobre a cegueira politicamente correta

Outro dia, algumas pessoas estavam comentando sobre esse lance de politicamente correto.

Uma amiga que é professora havia dito que a orientação que se dá aos porfessores é que mesmo se um aluno estiver colocando fogo na sala de aula, que o professor, se tiver que repreender o aluno (como se houvesse outra opção) fizesse à distância do aluno e com as mãos para trás, como se elas estivessem amarradas porque algum aluno poderia achar que o professor agrediu o anjinho que foi repreendido, sem contar que se algum aluno se sentir ofendido porque um professor por exemplo usou a palavra "negro" ao invés de afro brasileiro, o mesmo professor pode ser proibido de dar aula pra sempre.

Eu sei que muitas pessoas de determinadas raças, origens sofrem e sofreram muito na vida, mas parece que essa orientação politicamente correta está exagerada.

Esse negócio de politicamente correto é um câncer mesmo!

Toda a vez que eu vejo uma pessoa chamando alguém de "afro brasileiro" ou "portador de necessidades especiais" e outras enrolações eu tenho a nítida impressão de que a pessoa está usando esses termos da maneira mais pejorativa que poderia existir até mesmo pela inflexão de voz, enquanto que eu já cansei de ouvir as pessoas chamarem os outros de velho, neguinho, tio, careca, aleijado, ceguinho com uma inflexão de voz divertida, amistosa, até mesmo carinhosa.

Sabe, isso me parece uma forma das pessoas taparem o sol com a peneira. Uma pessoa nasce negra e é negra, mas pode não se sentir bem sendo chamada de negra, mas isso não é ofensa necessariamente. Alguém já parou pra pensar que pode até mesmo ser uma forma de negação e não aceitação da pessoa com relação a ela mesma?

Um cara que é gordo desde pequeno, sempre foi chamado de gordo, não se sentirá ofendido por ser gordo, mas porque ao se olhar no espelho, vê uma figura que não corresponde ao que ele acredita ser ele mesmo. Aí então o cara começa a fazer regime, praticar esporte, e tudo para emagrecer. Sofre igual a um condenado e perde 15 kilos, passa de 110 Kilos para 95 Kilos, por exemplo.

Aí ele vai pra uma festa e alguém chama o cara de gordo! O cara vai ficar pistola da vida, porque se esforçou por seis meses e não deixou de ser gordo. Só que ele não se sente gordo. Mas ele é gordo. E o fato de você chamar o cara de gordo vira uma ofensa pro cara porque o cara pode ter passado a vida toda dele lutando contra a balança. Sabe por que? Porque ele não queria ser considerado um cara lerdo, bonachão, sossegado, preguiçoso, folgado. E todo mundo acha que gordo é assim.

Imagine um cara que sempre foi baixinho e mirrado, desde pequeno todo mundo tira sarro dele, folga com o cara porque acha ele baixinho, fracote, etc. O cara passa a vida toda dele procurando fazer exercício para crescer, ganhar mais corpo. Só que o cara sempre foi o baixo da turma. As meninas mais bonitas não vão querer namorar ele, só irão dar bola pro cara se ele contar piada nas festinhas, todo mundo acha que o baixinho é palhaço, encrenqueiro, pentelho, irritadinho. Aí se o cara ficar irritado com alguma coisa, todo mundo já diz: lá vem o baixinho encrenqueiro! Só que o cara sabe que não é apenas um baixinho, piadista e encrenqueiro. Mas parece que todo mundo só enxerga ele como sendo assim. O cara vai estudar, trabalha pra caramba, vai ser atleta, tudo para montar uma imagem de esportista, cara inteligente. Aí chega alguém e chama ele de "baixinho" ferrou! O cara mostra para ele tudo o que ele passou a vida toda tentando não ser por fora, porque ele sabe que não é por dentro.

Só que por for a o cara é assim, e não tem nada no mundo que vai mudar isso.

Mesma coisa acontece com quem é preto, japonês, branco demais, magrelo ou careca. As pessoas ao se olharem no espelho enxergam uma "tipo" aparente de pessoa, que passa uma imagem, mas sabe que não se limita a ser apenas isso que sua aparência mostra.

Muita gente briga com isso até o último dia de sua vida. Alguns conseguem modificar sua aparência em alguma coisa, distrair a atenção com outra característica. Outros aceitam a sua aparência e vivem de maneira mais relaxada.

Mas nada disso vai acabar com o preconceito, nem mudar os nomes que as pessoas usam para classificar a aparência dessas pessoas. Seria muito mais útil para mudar a imagem que se faz de uma pessoa pelo aspecto físico se as pessoas procurassem não ter uma reação tão previsível quando alguém nota sua aparência física e tentarem viver de maneira mais natural independente do sua aparência.

Aí vem um monte de gente que tem essa questão da aparência mal resolvida e começa a querer que uma lei obrigue as outras pessoas a não falarem uma palavrinha que a ofende. Só que o problema nem está em quem fala do outro e nem na palavra, tá dentro da cabeça do cidadão.

Eu já fui chamado de tudo nessa vida, de moleque (sofri muito por pessoas que não confiavam em mim por acharem que eu tinha cara de criança e devia ser irresponsável, hoje em dia fico feliz pelos primeiros cabelos brancos) já fui chamado de tio (achei engraçado, enfim havia envelhecido), de quatro olho, de nerd, de babaca, de gordo, de magrelo, de cabeludo (numa época eu era magrelo e cabeludo e todo mundo na rua achava que eu era maconheiro).

Eu vejo a minha irmã, por exemplo, que sempre foi gorda, brigou anos a fio com a balança, mas chamava todo mundo de feito, preto, narigudo, magrelo e dava risada na cara das pessoas dizendo "e o cara é mesmo, nasceu assim...", só que bastava que alguém a chamasse de "gorda" pra que ela ficasse ofendidíssima, aí os outros eram mal educados, grossos...

Hoje em dia não chama mais ninguém de coisa alguma, mas também tem mais de 100 Kilos, mas se aceitou. E nunca mais ficou brava quando alguém chamou ela de gorda. Eu já vi ela dizendo que é gorda mas é feliz, rindo feliz da vida!

O politicamente correto, ao meu ver é uma forma de fazer com que pessoas mal resolvidas com a sua aparência não precisem se resolver duas questões íntimas e que os outros que não tem nada a ver com isso paguem o pato.

Aí entram com leis e o escambau baseado em algo totalmente fora de lógica e começa a se criar essa cultura imbecil de que se você fizer tal coisa, a criança vai ficar traumatizada. Se voc6e falar auto traumatiza, se levantar a mão traumatiza, se chamar o moleque capeta de capeta, traumatiza. O moleque pode tocar fogo na escola, mas se o professor levantar a voz e apontar o dedo na cara do moleque, a culpa é do professor que vai traumatizar o aluno.

A vida traumatiza!

Quem quiser passar por essa vida sem adquirir nenhum trauma que faça o favor de se suicidar e deixar a vida pras pessoas que tem a hombridade e a responsabilidade de viver com tudo de bom e de ruim que a vida trás pra todo mundo.

A vida não é um conto de fadas, não é um mundinho encantado.

Mas todas essas coisas que nos agridem só nos fazem bem no final das contas, todos saímos mais fortes e preparados para o mundo. E agora, e essa garotada que ninguém pode relar a mão? Essa mesma molecada que sai botando fogo em empregada doméstica em ponto de ônibus para se divertir, o que esperar dessa geração politicamente correta?

Eles estão demonstrando ser mais evoluídos ou humanos do que a nossa geração?