6.10.11

Jobs e Eu




Desde a minha infância eu sempre tive duas paixões: desenhar e computador.

Desenhar foi algo que eu sempre fiz, segundo minha mãe antes mesmo de eu saber pegar num lápis.

O computador, no entanto, foi uma paixão que demorou um pouco mais para aparecer em minha vida. Mesmo assim eu admito ser mais sortudo do que a grande maioria das pessoas da minha época e da minha cidade. Eu morava em Sorocaba e somente tive acesso ao computador graças a um tio meu que sempre foi abastado e podia se dar ao luxo de nos permitir conhecer essas coisas, enquanto que o máximo que os meus demais amigos de escola conheciam era uma bicicleta ou uma bola de capotão.

Em 1984 eu enfim conheci meu primeiro computador, embora nem fosse um Macintosh, mas um singelo TK 82-C com incríveis 2KB de memória RAM, sem HD, preto e branco, sem som e que lia arquivos que eram gravados em fita cassete.

Mesmo assim, a partir desse dia eu literalmente comecei a sonhar com computadores que eram super avançados, que permitiam desenhar, pintar, fazer coisas incríveis segundo a minha concepção de criança, embora na época e no Brasil da época tudo isso só poderia mesmo ser um sonho.

Os anos foram se passando e também os modelos de computador que eu cheguei a usar também foram mudando, mas até então computador sempre me pareceu uma coisa completamente distante do desenho, da arte, e, em silêncio, eu ainda sonhava com o dia em que eu conheceria um computador que me permitisse desenhar.

Em 1991, depois que eu me mudei definitivamente para São Paulo para trabalhar, eu um belo dia conheci enfim o Macintosh. Foi num estúdio de um ilustrador.

Me lembro até hoje como foi. Parecia que aquilo era mentira, parecia um sonho. O computador já era perfeito, tinha imagens perfeitas, dava para fazer tanta coisa, imagens perfeitas tal qual eram de verdade. Eu admito que nem mesmo nos meus sonhos mais loucos eu havia imaginado que um computador pudesse fazer aquelas coisas todas.

De lá pra cá eu literalmente viciei em Mac, não compreendia como alguém podeira achar um PC algo bom, era visível (pra mim sempre foi) a diferença entre as duas plataformas.

Um computador era apenas uma calculadora crescida, o outro era o paraíso na Terra.

Aos poucos me foi caindo a ficha de que ilustrar era algo completamente viável de ser feito tendo um Mac como ferramenta básica. Muita gente no entanto achava que o Mac seria na verdade uma espécie de inimigo número 1 dos ilustradores e que em pouco tempo nenhum ilustrador conseguiria trabalho, acho que apenas eu na época acreditava que o compuador poderia ser o meu melhor amigo.

O tempo foi passando e minhas suspeitas foram se confirmando.

Até que um belo dia, no auge da crise da Apple eu conheci a figura de Steve Jobs. Tudo aquilo tinha sido fruto dos esforços de um homem que como poucos conseguia montar uma equipe notável, ter idéias notáveis e fazer produtos notáveis.

Jobs voltou a Apple, e de quebra, o mundo todo ganhou com isso. Eu também ganhei, e ganhei muito com isso, e duvido que eu pudesse desempenhar minha profissão tão bem quanto eu posso desempenhar hoje em dia se não fosse a visão desse homem.

Hoje definitivamente tudo isso é história, talvez não voltemos a ter outro personagem a nos influenciar tão significativamente em nossas vidas quanto Steve Jobs nos influenciou direta e indiretamente. Ele me fez aprender que é possível ir além, é possível pensar e realizar coisas que a grande maioria não pensa ou não acredita. O estúdio que fundamos é também uma forma de colocar esses princípios em prática, por isso Jobs não apenas criou a máquina com a qual eu trabalho mas me ensinou o princípio pelo qual eu utilizo o meu trabalho.

E tanto eu quanto muitas outras pessoas hoje em dia apostam no novo, apostam em quebrar barreiras e paradigmas porque viram nas atitudes de Steve Jobs o exemplo mais perfeito desse princípio.

Hoje eu acredito que saber pensar de maneira diferente e fazer a diferença é o caminho do nosso século, e posso dizer com toda certeza que Jobs não simplesmente nos apresentou o Ipad, o Itunes ou o iPod, ele nos apresentou o futuro.