21.7.05

Quando um ilustrador passa a ser profissional?

Quando tem domínio de várias técnicas e estilos, a ponto de poder suprir a necessidade dos clientes.

Quando se torna responsável o suficiente para vestir a camisa dos seus clientes e transmitir a eles a segurança necessária.

Quando aprende a cobrar valores justos ao invés de fazer trabalho na faixa ou em troca de mais trabalho, quando aprende o valor do seu trabalho.

Quando começa a fazer questão de qualidade no seu trabalho e quando percebe que somente com material de qualidade se faz um bom trabalho.

Quando abre empresa própria, paga imposto, emite nota e se regulariza fiscalmente.

Quando começa a encarar o desenho como profissão séria, se torna ilustrador.

Quando aprende a ter ética com relação aos seus companheiros de profissão, sem derrubá-los com concorrência desleal.

6.7.05

Ser Ilustrador, questao de talento ou de estudo?

Quando eu estudava desenho, no finalzinho dos anos 80, comecinho dos anos 90. Eu fazia parte de um grupo de mais de dez carinhas que se matavam de tanto desenhar.
Acontece que eu não era, nem de longe o mais talentoso e nem o melhor de todos, haviam outros alunos muuuito melhores do que eu, caras que só precisavam de um empurrãozinho. Infelismente os mais talentosos, que percebiam que pra eles tudo era mais fácil, eram também os mais preguiçosos.

Eu me lembro de um episódio que a gente um dia conseguiu um única ficha de inscrição para um desses Salões de Humor. Resolvemos preencher a ficha juntos. Todos os caras. Quadriculamos o papel para que em cada uma delas, um carinha fizesse o seu desenho. Eu me lembro que a uma certa altura do negócio, um dos outros alunos de desenho falou: Pô, Flávio! Você leva isso muito a sério! Desencana meu! Logo depois houve uma chiadeira geral, todos concordavam com isso.... Como eu não era nem de longe o melhor da turma, eu logo fui taxado de errado. Eu era o cara que não levava a coisa na brincadeira, de certa forma eu era o chato da turma.

E os caras talentosos não estudavam, não tinham paciência para corrigir os fundamentos de desenho, tinham preguiça de preparar seus trabalhos para as exposicões que eram organizadas, não gostavam de ajudar os novatos, não queriam limpar pincel dos mais experientes. Eles queriam ser tratados iguais ao melhores, mas não tinham humildade suficiente para traçar a mesma trajetória dos mais experientes.

Com o tempo, foram brigando com o professor, foram brigando com os alunos que preferiam estudar e praticar mais, chamavam os caras de caxias, baba ovo e por aí afora. Só que os caras que eram pacientes, estudavam, treinavam, ajudavam os novatos, limpavam os pincéis dos mais experientes, foram aos poucos se aprimorando, aprendendo com os que estavam acima deles e com o professor, e, ao passo de dois ou três anos estavam com o traço tão bom ou até mesmo melhor do que os tais alunos talentosos. Aí aconteceu outra peneira: quem quer se enfiar de cara no mercado de trabalho? A maioria sempre quis vida boa, no interior, ninguém quis arriscar e apostar em São Paulo, só o chato aqui.

Atualmente dessa galera de mais de dez alunos somente eu e outros três trabalhamos com ilustração, sendo que esses três ainda estão no interior, com medo de arriscar, meio que não levando a coisa a sério ainda, e o resto...