Algumas vezes eu vejo, nesse mercado de ilustração, tão vilipendiado por ilustradores dos naipes mais esdrúxulos que se pode haver, algumas iniciativas isoladas de pessoas com intenções puras.
Algumas vezes eu me surpreendo com o fruto de iniciantes com o vigor e a inocência da primeira idade, que ainda não foram contaminados pelo câncer do egocentrismo e nutrem em si sonhos socializados de socializar o acesso, o conhecimento, a informação, o debate e o desenvolvimento do mercado de ilustração pelos ilustradores.
Invariavelmente, costumam trombar com as figuras já conhecidas, macacos velhos que vivem de marketing pessoal, se auto intitulando salvadores da pátria que “vendem” suas iniciativas (muitas delas, que nem própria é) como a solução definitiva para todos os problemas.
A solução, antes de mais nada, se faz necessário dizer que de maneira absoluta está mais fácil de ser uma quimera do que uma realidade, porque um mercado é feito de pessoas, indivíduos, e ainda mais quando se fala em ilustração, o indivíduo se sente e se faz cada vez mais “indivíduo” mesmo, pois não consegue ter disciplina e grandiosidade de caráter para deixar de ser uma pessoa, um artista, “o cara” para ser apenas parte de um grupo.
Vemos todos os dias pulularem manifestações de grupos de indivíduos, mas com extrema dificuldade vemos manifestações de grupos, pessoas anônimas que juntos fazem a diferença. E o ilustrado, no fundo não quer ser anônimo, que ser apontado, admirado, reconhecido, quer ter seu ego massageado e fazer parte de uma “colméia” seria a morte de sua individualidade como “abelha rainha”.
Temos um exército de “abelhas rainhas”, algumas abelhas rainhas maiores, mais forte, outras abelhas já são mais mirradinhas, mas todas são rainhas.
Eu mesmo confesso que essa dificuldade em formar um grupo, aonde cada um contribua diariamente para colocar o seu tijolinho e construir alguma coisa aonde méritos e culpas sejam de todos me fez afastar me por completo de qualquer aglomeração. No entanto, eu observo, com olhos que não são meus, mas ainda assim aguardo o momento em que uma geração regenerada um dia apareça, disposta a simplesmente trabalhar. Colocar a mão na massa independente de quem vai levar a fama por ter feito o quê.
E ainda hoje vejo, algumas iniciativas, pessoas bem intencionadas, com sinceridade, mas que falta a elas a experiência, o conhecimento, a vivência. No final das contas, apesar da boa vontade elas se ajudam, se esclarecem e aos poucos se fortalecem, mas ainda falta o apoio, a visão, o contato com o passado, com algumas tradições, a história do profissão, o porque da origem das coisas, como técnicas, estilos, e demandas de mercado.
Também falta (e como falta), sempre faltou na verdade, uma visão ou uma oportunidade para que os ilustradores que se aventuram nesse mercado ingrato tenham domínio não somente da parte técnica e artística da profissão, mas da parte prática. Como administrar? Como tomar conta das nossas contas? Como gerir seu trabalho como uma empresa? Como ser empreendedor? Como abrir mercado? Como analisar o mercado, suas tendências, saber se antecipar aos acontecimentos e estar a frente, ditando regras, tendências, ao invés de simplesmente aceitar as regras que alguém um dia impôs para você?
Como fazer para ser um vendedor, uma administrador, um gerenciador, uma pessoa que trabalha com recursos, com elementos, que precise escolher as melhores peças para se montar um quebra cabeça de acordo não só com a realidade de mercado, mas a realidade dos clientes?
A falta de ouvir preocupações como essa me fez e ainda me faz afastar de muitos colegas de profissão. A coisa mais insuportável que existe é você ver um bando de marmanjos reclamando da vida, e ninguém tendo idéias, analisando possíveis soluções. O pior de tudo, é que, quando alguém aparece com uma possível solução, ninguém acredita nessa pessoa, tão aficionados essas pessoas estão em focar no problema. Isso quando a própria pessoa por si só já não desacredita nas suas idéias.
Já é tão difícil ouvir um sim, num país aonde as pessoas estão acostumadas a acreditar que a coisa é ruim, o sistema é injusto, a corrupção sempre existiu e sempre existirá, e dessa maneira todos vivem suas vidas simplesmente se adaptando a “regras” em que a esperança, o esforço e a confiança no futuro somente se faz presente em pessoas que encontram alguma grande fonte estatal de recurso para se encostar.
É um comportamento herdado dos primatas, pois esses nossos parentes distante, tem um medo tremendo de água, de ar, até do chão. Somente se sentem confortáveis me cima de galhos, aonde podem ver tudo o que acontece, fazem qualquer coisa, inclusive provocam animais mais fortes do que ele, mas tem a opção de se esconderem atrás da folhagem ou pular para outro galho, caso a coisa fique preta.
Parece que nesse país, estamos ainda mais próximos dos chimpanzés, pois vemos invariavelmente esse tipo de comportamento se repetindo, e muitas pessoas sem que saibam, revivem o comportamento dos seus ancestrais mais remotos.
Entre ilustradores isso se amplifica, basta ver quando muitos ilustradores se juntam.
Nada contar o encontro em si, um encontro é apenas um encontro, mas é inegável o clima de primitividade, oriunda do comportamento tão pouco humano de algumas pessoas.
E porque um comportamento tão pouco humano em coletividade? Talvez porque o animal (não me refiro aos chimpanzés e nem aos gorilas) em questão seja, na verdade avesso ao relacionamento harmonioso em grupo, preferem resgatar instintos primitivos em coletividade manifestando-se da forma descrita, quem sabe mesmo por suspeitarem que se vestissem a pele daquilo que são na verdade, talvez demonstrassem ser animais muito mais selvagens.
Alegria é sempre bom, diversão sempre é bom, mas alegria demais inebria o cérebro. É preciso rir da vida, rir da gente, mas o suficiente para descansar, retomar o fôlego, recobrar as forças e voltar a encarar a realidade, interagindo se possível de maneira positiva no mundo real. e depois da refrega, uma diversão e alegria para compensar os esforços de batalha.
Isso, se analisarmos bem, é muuuito primitivo, mas ainda assim é um comportamento de seres humanos.
Aliás, o ser humano só chegou aonde chegou porque soube se organizar, se aliar, equilibrar forças para derrotar as dificuldades do ambiente. Se hoje o ser humano subjuga o planeta a ponto de poder destruí-lo se utilizar sua força sem sabedoria, essa capacidade só se deve porque o ser humano soube, através do tempo se unir e se organizar.
Não como bando de símios, e nem como tribos nômades, mas como seres capazes de analisar o ambiente, agir em conjunto, tomar decisões e agir de acordo com as decisões tomadas.
O que eu espero, é que os novatos, não se recolham ao primitivismo simiesco da atividade, mas continuem preservando a boa vontade de discutir e auxiliar. Para vocês, eu manifesto minha vontade de conhecê-los todos e quem sabe, ter um dia, com bastante tempo para poder.
Não nos iludamos, a sofisticação de certos ambientes apenas maquiam os instintos animalizados do ser, o fato de alguém ter um carro assim ou assado, de se vestir assim ou assado, de falar com inúmeros rapapés não escondem os instintos do ser. A simplicidade ainda é o único caminho para a verdade, para as grandes conquistas. Quem tem aversão a simplicidade, tem medo que em vivendo a simplicidade revelem ao mundo sua verdadeira natureza.
Novatos, não se seduzam pelo luxo, nem pelos ouros de tolo da fama, da divulgação fácil e do trabalho para grandes clientes; não queiram ser mais do que são, se esforcem, trabalhem, estudem, desenhem, ilustrem, pintem, tenham idéias, ponham elas em prática, conheçam mais do que as coisas que apenas fazem parte das pranchetas, façam cada um de você a sua parte sem esperar que o outro faça a dele, pois o coletivo é feito de indivíduos e corrigindo o individuo o coletivo se corrigirá; e espero que saibam que é com grande prazer que eu quero conhecer vocês e poder trocar as minhas experiências com as suas, pois talvez eu tenha algo a acrescentar, fruto mais da vivência do que da capacidade, mas atualmente acredito ter muito mais a aprender.
Pois me corta o coração ver vocês, iniciantes bem intencionados, com fome e sede de conhecimento, de orientação e de união não serem levados a sério.
O mercado se um dia se regenerar, será porque faz parte dele uma maioria de pessoas conscientes e sérias. Se hoje o mercado está degenerado, é porque a maioria dos ilustradores que fazem parte dele são igualmente degenerados. Me incluo no bolo, mas sinceramente desejo mudar essa realidade.
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