É comum ver ilustradores, quadrinhistas, chargistas que falham ainda na qualidade de seus trabalhos, rebaterem críticas, dando exemplos, de outros chargistas renomados e que não tinham um desenho lá muito agradável pela estética bunitinha das coisas. Um exemplo disso é o Henfil. Mesmo assim, muita gente não sabe que aquel estilinho minimalista não veio do dia pra noite, foi algo construído, amadurecido.
É comum ver críticas de iniciantes que ainda não estão no ponto serem rebatidas como se as críticas fossem antiéticas. O complicado disso tudo é que se alguém me pedir a minha opinião, significa que a pessoa quer saber o que eu penso sobre alguma coisa. Aí, se eu pensar alguma barbaridade, não posso expor isso? Mesmo se não fui EU quem tive a iniciativa dizer o que penso? Se EU achar algo ruim, por princípio pessoal, irei reservar a minha opinião para mim mesmo, se eu perceber que o meu julgamento for duro ou pesado demais. Agora, ao ser interpelado, não quero de forma alguma ser forçado a mentir, a prevalecer uma farsa para sustentar um suposto clima de “amistosidade”.
É comum também ver pessoas ligadas ao mercado de ilustração dizendo que uma charge, por exemplo, exige que o ilustrador tenha uma idéia, enquanto que, num trabalho para um cliente qualquer, você é apenas uma mão que anda. Quando se trata de uma charge, não basta só o desenho, é o desenho com a idéia. Geralmente acha-se com os demais ilustradores essa questão não existe, porque o cliente já pede uma idéia pronta.
Mentira. O cliente nunca sabe ao certo o que quer, se você se fiar no que o cliente está dizendo, corre o risco de refazer muitas vezes o mesmo trabalho. Agora se você utilizar as informações do cliente para compor a idéia, certamente tem uma grande chance de acertar na primeira. Mesmo que pra deixar o desenho ok seja necessário horas de trabalho.
Vamos analisar o caso da charge do Henfil, que não foi conhecido por ilustrações de anúncios (aliás, nem sei se algum dia ele ilustrou anúncios), mas foi único nas suas charges.
No caso do Henfil, ele teve que amadurecer seu desenho, e isso levou tempo. Digo mais, ele somente amadureceu seu traço porque teve como referencial outros desenhistas. E isso acontece com qualquer um de nós. A simples convivência com outros desenhistas, ilustradores e chargistas servem como impulso para o progresso da nossa técnica, a gente aprende um pouquinho aqui, outor pouquinho ali, e assim sempre se evolui.
E isso não é privilégio de quem trabalha fazendo charge ou quadrinhos. Todos tem a oportunidade desse privilégio. Eu mesmo posso me considerar um cara bastante sortudo, pois tive a oportunidade de ver o Brasílio desenhando e depois o Pedro Mauro. E sinceramente, quanto eu aprendi com eles. Aliás, não somente com eles mas com inúmeros outros ilustradores que eu pude olhar, ver como trabalhavam.
No caso das pessoas que estão iniciando, elas precisam aprender com profissionais que já sabem o que fazer, mas não é isso o que acontece, essa molecada não encontra os profissionais, quando encontram querem trabalhar de qualquer jeito, porque estão sem grana, porque o pai, a mãe e sei lá mais quem fica buzinando na orelha do cara, que esse negócio de desenho não da futuro, ou o moleque traz dinheiro em casa ou nada feito. Só que ninguém aprende a desenhar fazendo um curso de quatro anos, muito menos num curso de seis meses.
Aí, o caboclo pega sua pastinha, cheio de homem aranha e desenhinho de mangá, enfia debaixo do suvaco e sai por aí, bate em porta de Editora e mostra que já faz uns rabiscos. Aí o editor vê no moleque uma grande vítima em potencial, aquele que vai fazer um montão de desenho por dez reau com um prazo absurdo e diz pro carinha que o preço é tabelado, todo lugar é assim. Ainda diz: Você não precisa aprender nada, esquece essa coisa, bi bi bi, bo bo bó, be be bé... E por aí vai.
Pronto, já estragou o carinha! Agora o caboclo não quer mais ser assistente de outro ilustrador, ele acha que é profissional.
Agora, isso não é antiético? Estragar um monte de iniciante, com atitudes pouco camaradas é ético? Antiético é falar mal do trabalho de um moleque com trabalho fraco?
Seria, por acaso ético fechar as portas de seu estúdio e se recusar em dar uma orientação para um iniciante que quer ser um profissional equilibrado, em conformidade com as necessidades e a realidade do mercado? Se o iniciante se transformar em um profissional sem parâmetros decentes de comportamento profissional ou técnicas e estilo, pode ser que haja nesse tipo de coisa muito mais responsabilidade de TODOS nós do que apenas a culpa do moleque por ele ter tomado o rumo profissional que apareceu na sua frente.
Pelamordedeus, gente. Ética é uma coisa muuuito grande, não se resume a falar ou não falar mal do trabalho de um desenhista em público, mesmo que seja um iniciante. Fazer um comentário de crítica, por mais maldade que haja no comentário, é muito mais construtivo para o criticado, desde que não seja melindroso, aproveitar a crítica para fazer trabalhos melhores.
Antiético é dar tapinhas nas costas e depois apunhalar a pessoa. Antiético é fingir-se de amigo, para com calma, tempo, puxar o tapete de uma pessoa. Antiético é enganar, é mentir, é fingir, é simular.
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