É muito engraçado ver como o pessoal acostumado a trabalhar com quadrinhos batendo uma cabeça fortíssima para se achar no mercado de quadrinhos, aliás, os quadrinhos no Brasil são completamente desencontrados.
Falta, de forma mais do que profunda encontrar uma identidade nacional. Sempre quando se vê uma discussão sobre isso, costuma-se voltar com sugestões maravilhosas como se criar personagens como a Super Mula-sem-Cabeça ou Cangaceiro Atômico. Isso é o ridículo do ridículo, é pedir por favor não se sinta identificado com o que eu faço.
Primeiro porque essa história babaca de achar que um caboclo só porque voa e usa cueca por cima das calças, tem um físico de go go boy e fala igual a Xuxa em seu programa infantil colabora somente para aumentar a diferença entre o mundo que vivemos com a ficção que pode ser produzida nos quadrinhos.
Segundo porque uma história, precisa ser boa, basicamente, com um enredo interessante, e, para ser sincero, se essa história for contada em uma história em quadrinhos é apenas porque a história foi roteirizada para isso. Uma vez que entre fazer um vídeo, animação, um filme ou uma HQ, a produção mais barata é sem sombra de dúvidas a última opção. Só isso. Quadrinhos na verdade costuma ser uma forma de viabilizar histórias que se fossem produzidas em outras mídias teria um custo muito alto, e correria o risco muito grande lançar uma história que não se sabe qual seria sua aceitação. HQ é basicamente uma mídia que minimiza riscos.
Só que nem pra isso os quadrinhos no Brasil servem, isso porque as editoras compram material principalemtne norte americano por um valor absurdamente baixo, abaixo do custo de produção de algum estúdio nacional, com a vantagem que as revistas já vem com consumidores que são formados pela produção dessas editoras não só pelos quadrinhos, como também através de desenhos animados, e agora também pela internet.
O que aumenta a minha estranheza é ver que existem estudos e pesquisas apontando os quadrinhos como uma forma barata é eficaz de se ensinar e comunicar as pessoas, e mesmo se baseando em resultados de pesquisas sérias, não existe praticamente investimento em se produzir quadrinhos no Brasil. Agora é preciso ver se sso também não acontecem porque uma parcela grande de quadrinhistas também não tem o menor interesse em produzir quadrinhos para um determinado público.
Porque o que é produzido no Brasil para ser comercializado no mercado brasileiro, para consumidores brasileiros, em sua grande maioria são histórias de interesse somente do autor. O complicado é justamente que o autor não se importa nem um pouco se o trabalho que ele faz é de interesse de mais alguém. O que é mais espantoso ainda é que entre os autores de quadrinhos, pensar assim é considerado normal, anormal e protituído é pensar em fazer um quadrinho levando em consideração afinidades de algum público.
Não temos público consumidor. Não temos roteiristas especializados em quadrinhos. A maior parte dos desenhistas de quadrinhos buscam trabalhar no mercado norte americano. Grande parte deles aceita trabalhar mais por bem menos dinheiro do que um americano aceitaria, e ainda acha isso normal. Muitos acabam tendo alguma síncope, problema de saúde, que algumas vezes o força a abandonar sua profissão prematuramente.
Também causa estranheza ver que os quadrinhistas brasileiros sabem que não existe um mercado consumidor de quadrinhos no Brasil e mesmo assim não acham isso estranho. Ainda mais estranho é ver quadrinhistas não muito familiarizados com a linguagem cinematrogáfica.
O curioso nessa história toda é que no meu entender os quadrinhos funcionam como um ensaio para o cinema, ou seja, é um modo mais barato em se dar vida a uma história, sendo que muitas histórias em quadrinhos bem sucedidas viram filme.
Só que no Brasil os quadrinhos estão a quilômetros de distância do cinema, e olha que o nosso cinema já conseguiu um lugarzinho ao sol mesmo não sendo assim uma mídia tradicionalmente rica ou considerada bem sucedida.
Seja sincero, você assistiria ao filme da Super Mula-sem-Cabeça? Você assistiria um filme do Super-Caipira? Ou então do Cangaceiro Atômico?
A resposta é simples e clara, ninguém vai perder tempo com essa m$#&!
Porque a idéia é ruim, ridícula, imbecil. E tem gente que acha que para quadrinhos a Super Mula-sem-Cabeça pode pegar.
Que falta de bom senso, que falta de bom gosto, que falta de história para contar.
Uma história em quadrinhos é apenas uma forma mais complexa de se contar uma história aonde o desenho é tão importante quanto a história. Eu acho que trechos desse próprio texto já demonstram isso.
Só que com história babaca, não tem desenho que dê jeito.
No Brasil existem heróis sim, mas o nosso mundo é diferente coisa da porrada, da coisa dos personagens cheios de músculos e vazios de neurônios.
No Brasil não tem Rambo, tem Ayrton Senna; não tem Vingador do Futuro, tem Pelé, não tem Batman, tem Santos Dumont, tem Getúlio Vargas, tem JK, tem Padre José de Anchieta, tem Frei Damião, tem Chico Xavier, tem Irmã Dulce, tem Bento Gonçalves, tem Chico Buarque, tem Tom Jobim, tem Betinho, e outros tantos heróis de um povo sofrido, heróis de verdade.
A idéia de heróis nesse nosso Brasil é diferente dos EUA, lá para ser herói é preciso músculo e muito chumbo, aqui é preciso coração e muita mão na massa.
O nosso mundo é diferente, nossa realidade é diferente.
O desafio é se encontrar sem ser ridículo, é ser natural, brasileiro.
Quem sabe um dia alguém por aqui não consegue?
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