7.4.09

Perdi um Mestre

Nessa vida é tão difícil encontrar pessoas com inteligência, moral, coerência e firmesa, que quando aparece algum pessoa com o mínimo de capacidade intelectual, temos a impressão de que encontramos um ser de outro mundo, quanto mais quando por algum motivo qualquer temos a sorte de encontrar em nossa vida algum ser realmente excepcional, muitas vemos sequer percebemos que essas pessoas a são.

Na minha vida, até hoje, eu considero quatro pessoas com quem eu tive a oportunidade de cruzar o meu destino como excepcionais, somente não gostaria no momento de dizer os nomes, acredito que essas pessoas sabem que eu as considero mestres, pois foram pessoas que me mostraram muitas coisas, pessoas com quem eu muito aprendi e, se hoje eu posso ser considerado alguma coisa que preste, eu posso dizer com toda certeza que essas pessoas muito contribuiram para as qualidades que eu possa pelo menos hipoteticamente ter.

Só que hoje, eu perdi a oportunidade de continuar a ter contato fisicamente com um desses mestres. Foi o último mestre que eu tive, uma pessoa que me ensinou tanto, mais tanto conhecimento, tanta coisa, uma pessoa que proporcionou tanto aprendizado nos últimos anos a ponto de eu conhecer muito mais sobre mim, sobre o mundo, sobre as coisas, sobre as leis que regem o universo, sobre os mistérios da vida, de Deus e dos homens no que em todos os anos de minha vida.

Com esse mestre eu tive acesso ao último segredo da humanidade, o segredo sobre si próprio, seu destino, sua origem, sobre o objetivo e sobre como aprender a aprender.

Uma pessoa rara, como poucos na terra são. Uma pessoa bastante dura quando se conhece logo de início, mais parece uma rocha intransponível, alguém que ao ouvir uma frase sua é capaz de gritar “Burro!!” e depois te provar por A mais B , de acordo com as mais variadas teorias e ciências o porque ele está te chamando de burro a ponto de você apenas admitir que é realmente burro.

Muitas pessoas que se consideram grandes doutores, sabedores de muita ciência e filosofia foram chamadas de burro por esse mestre, que sempre provou a todos os “burros” que cruzaram o seu caminho que eles eram ainda muito menos do que aquilo que eles acreditavam ser, e por isso mesmo foi odiado por tantos.

Um ser de rara inteligência, mas em alguns momentos incapaz de conviver com mentes simplesmente comuns, tal era o seu grau de capacidade. Um homem capaz de se fazer o mais reles materialista para não ofender nem o mais reles materialista, capaz de se fazer o mais reles capitalista para não ofender nem o mais reles capitalista, capaz de se fazer um reles preconceituoso para não ofender o mais reles preconceituoso, capaz de se fazer um reles mortal para não ofender nem mesmo o mais reles mortal.

Mas o fato é que ele amava as situações simples da vida, amava as amizades fáceis e sinceras, amava a vida com todos os problemas que ela contém, a ponto de inclusive criar problemas somente para que eles existam, sem mesmo saber porque ele os criava.

Respondia, quando interpelado “porque você faz isso?" apenas com um “sei lá, frescura...” Acontece que essas frescuras dele, o fazia um ser único, capaz de ir aos Estados Unidos só para comprar cueca e ter uma cueca nova para mostrar aos amigos de futebol no vestiário.

Pois ele sempre foi assim, embora a princípio se parecesse um grande mal humorado, agressivo e misantropo, ao conhecê-lo mais de perto, ele se revelava um verdadeiro amante da vida, da vida boa, da vida simples, da vida plena, uma verdadeira criança num corpo de mais de setenta anos, uma criança que corre de carro, uma criança que gosta de barco, uma criança que bebe, que fuma, que joga, que ri, que conta piada, que tem humor e que nunca fez a mínima questão em se parecer inteligente, sensível, honesto. Para ele bastava ser, não mostrar aos outros que era.

Quanto temos que aprender com pessoas assim, e quanto tempo irá demorar para voltar a encontrar alguém assim.

Minha preocupação agora é em saber se ele está bem, se será possível continuar o seu caminho sem maiores sofrimentos e se os seus podem se sentir confortados pela dor de sua perda.

Lamento apenas pelas poucas palavras, pensamentos e raciocínios que deixou escrito, pois o fruto de sua razão é ouro puro, o mais puro e mais valioso, pois nunca perece e ninguém irá um dia roubar.

Todos os que tiveram a sorte e o encontrar e de receber dele a maior riquesa que poderia dar a uma pesssoa, que é a sua inteligência, sua presença de espírito; continuarão, agora não mais como alunos ou aprendizes, mas pessoas que tentarão viver, agir e ensinar tudo o que dele pode nos oferecer.

Como ele mesmo nunca gostou e nem admitiu elogios, a ponto de muitas vezes se transformar no bicho mais selvagem que pode existir somente para provar que nunca foi merecedor de qualquer elogio, vou terminando aqui meu texto.

Mas, não sem antes dizer:

Obrigado, Paulo Oliveira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu recado, faça sua observação, crítica ou sugestão.