11.2.09

Nome aos Bois

É muito comum vermos, lermos e ouvirmos pessoas reclamando de colegas de profissão que tiram o trabalho de outros por cobrarem menos, por pagar bola, cleinte que dá o cano, impõem claúsulas abusivas e exploram das mais variadas formas, mostrando o quanto o nosso mercado é mundo cão.

O problema é que a maioria das pessoas se manifesta sempre na surdina, e quando alguém quer escancarar a porcaria, dar nome aos bois livremente, sempre tem inúmeras pessoas que chegam com a filosofia do "deixa disso", argumentando que isso é imoral, ilegal, pode render processo.

O engraçado é que no Brasil, sacanear não dá processo...

Eu sempre fui a favor das pessoas denunciarem quem é quem.

Realmente não acho antiético denunciar pessoas mal intencionadas, mal pagadores, etc. Antiético é esconder para que o próximo trouxa caia nas mãos dos sem vergonhas.

Sem contar que a melhor forma de se evitar calotes, ações antiéticas, imorais, abusos é fazendo com que as pessoas que assim agem terão a certeza de que não serão acobertadas e terão que responder pelos seus atos.

Esse país atualmente sofre duma grande doença que é a idéia que qualquer pessoa tem o direito de ser mal caráter sem ser importunada e sem ser punida. Vivemos num império da impunidade. Todos procuram se acobertar e tapar o sol com a peneira.

No mundo todo comportamentos anti éticos e abusivos são combatidos por uma simples questão de que aquilo que é certo, é certo mas aqui as pessoas costumam se aproveitar dos "esquemas" para levarem vantagem sobre os demais.

Inúmeros são os ilustradores que sustentam grandes clientes na base da bola, ou que furam esquemas de valores, dizendo para as pessoas não aceitarem custos baixos e na surdina praticam esse valores, aceitam ceder TUDO e mais um pouco e, na maioria das vezes se revoltam porque perdem trabalho por alguém que aceita trabalhar por menos ou que cede mais do que você.

Muita gente vende personagem por R$ 800,00, muita gente faz Storyboard por R$ 50,00 o quadro, muita gente faz capa de livro por R$ 300,00, muita gente faz trabalho de dias a fio inteiramente no risco e perante a coletividade se vendem como profissionais de alto gabarito.

Os clientes somente oferecem essas condições subumanas de trabalho e pagamento porque existe gente que as aceita, e digo mais, não é uma ou duas pessoa, mas gente pra burro.

Cada um precisa antes de mais nada ter consciência de que não está levando vantagem sobre o seu concorrente, mas está deteriorando o seu próprio mercado, está matando a sua galinha dos ovos de ouro, está matando a si mesmo de fome e destruindo a sua própria profissão, não a profissão do outro.

Aí chega numa revista ou jornal e fala que a ilustração morreu, lógico com ilustradores assassinando o seu próprio mercado, morre mesmo.

O que precisamos é tratar bem o nosso mercado para que ele não morra, mas para que ele viva e com muita saúde.

E Não adianta vir dizer que essa é a tendência, que isso é mentira. Se fosse assim os ilustradores estariam se extinguindo de mercados maiores como EUA e Europa, e isso não acontece, somente no Brasil.

É preciso que cada um pergunte a si mesmo: será que não sou EU que estrago o mercado? Será que o problema são realmente as editoras? Será que o problema é realmente o outro?

Todo ilustrador pensa sistematicamente em diminuir a sua estrutura, montar estúdio do quartinho do fundo, botar a família para trabalhar para você, colocar moleque te ajudando, comprar o material mais barato possível, abrir empresa pensando em pagar o mínimo imposto possível, tudo isso pra quê? Para sobrar mais dinheiro?

Duvideo-dó!! É para cobrar mais barato pelo seu trabalho. Eu já vi muita gente com síndrome de cobrar mais barato. Acha que pega trabalho somente se cobrar mais barato e depois que pega o trabalho porque cobrou menos sai por aí falando que tem trabalho por que é bom profissional.

E sai dizendo por aí que está por cima da carne seca. Acreditando que ilustrador vara a noite porque tem alguma coisa no DNA do danado que faz ele virar notívago, dizendo por aí que ilustrador adora trabalhar nos dias e horários mais ex6entricos possíveis...

TUDO MENTIRA!!!

Qual de nós não se cobra porque não pode passar as noites com a família?

Qual de nós se sente realmente feliz em trocar feriados que poderia passar indo com a família no parque, assistindo um cinema, enfurnado no estúdio sem tomar sol e sem comer direito?

Eu respondo: NINGUÉM!

E como mudar isso?

Será que já não passou da hora de cada um de nós fazermos a NOSSA PARTE? Se não para benefício da categoria (pois ilustrador não pensa mesmo no coletivo), pelo menos para benefício PRÓPRIO.

Quantos de nós não estragam seus relacionamentos, colocam casamento, filhos e amigos a perder por causa das imposições de trabalho?

Quantos de nós somente tem relações com pessoas que trabalham igual a nós, sem dia e sem horário, porque os outros não NOS compreendem?

Vamos fazer uma análise real de consciência.

Por que será que as pessoas acham por aí que desenhista não trabalha?

Será que é realmente por preconceito?

O que fazemos para mudar a imagem que as pessoas tem de nós? E o que fazemos para mudar a realidade da nosso mercado?

Coletividades existem para tentar promover mudança, mas somente o indivíduo realizando o seu papel poderá mudar a sua vida.

Ninguém irá mudar o seu mercado por você, o que podemos fazer é acima de tudo proporcionar mecanismos para que a discussão exista, para que as pessoas possam fomentar a análise de mercado e propor alternativas, mas as atitudes precisam ser tomadas e adotadas individualmente.

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