21.3.06

Novas questoes em analise - Velhas questoes na cabeca

Eu gostaria de explicar à pessoas que quando eu posto uma mensagem com um certo caráter informativo, com a intenção de esclarecer e de muitas vezes orientar a consciência e a formação de novatos e pessoas que se encontram perdidas e necessitada de uma "luz" para se encontrar no mercado, eu estou lidando com uma coisa que exige uma responsabilidade imensa, responsabilidade essa que eu rogo à Deus que tenha pelo menos um pouco, porque dependendo da forma como escrevemos e do sentido que damos a uma questão podemos fazer com que essas pessoas simplesmente percam as esperanças com as profissões que tanto sonham em ter, ou então pode fazer com que essas pessoas tenham uma visão deturpada da realidade, ou então, até mesmo uma visão perdedora e derrotista. A comunicação é uma arma. Se bem utilizada, poderá levandar a moral e a auto confiança de muita gente.

Pessoalmente, eu acredito que a diferença entre ganhar e perder está em acreditar que é possível. A maioria das coisas que existem no mundo simplesmente existem da forma como existem porque algum dia alguém pensouque seria possível que algo fosse de uma determinada maneira e fez com que isso acontecesse, então todos à sua volta adotaram aquilo como verdade e como padrão.

Tudo o que existe, um dia foi imaginado para depois ser criado.

Muitas das coisas que não existem, simplesmente não existem porque ninguém é capaz de acreditar naquilo. E isso se torna um paradigma. Uma hora ninguém mais ousa sequer sonhar nos seus mais loucos devaneios que tal coisa algum dia possa acontecer.

Quando nós expomos nossos pontos de vistas, na maioria das vezes nós estamos seguindo esse princípio mesmo que inconscientemente. Muitas vezes fazemos não só inconscientemente, como também inconseqüentemente.

É justamente por isso que, pelo menos eu, no papel que é me dado ter de pessoa que tem capacidade e liberdade de expor minhas idéias, conceitos e razões, me recuso a defender coisas como a não necessidade de estudo, empenho, dedicação. Eu me recuso acreditar que somente o talento basta para ser profissional, eu me recuso a fazer com que da minha boca ou das minhas palavras saiam frases como: isso é pra ser somente um Hobby, eu me recuso a matar o sonho de vida de qualquer pessoa, eu me recuso a acreditar que quando todos cobram tão pouco pelo seu trabalho o negócio é se ajustar a essa novidade, fazendo trabalhos mais rápidos, descartáveis, inúteis, de qualidade cada vez pior; só pra que eu seja competitivo, porque aí eu posso ganhar pelo volume, pelo volume de porcaria, e não pela qualidade, não pela especialização.

E por que eu me recuso a agir dessa maneira? Porque eu não acredito em nada disso que eu acabei de citar. Só que eu acredito em L.E.R. E também porque existe dentro de mim a consciência que o se algo não é bom pra mim, não é bom e tampouco desejável pra qualquer pessoa, por mais indigna ou mau caráter que uma pessoa possa ser. Porque eu sei que a única conquista é aquela que é compartilhada por todos. É porque eu tenho uma consciência que vai me cobrar se, por acaso, em algum momento da minha vida, eu acabar orientando errado alguém que esteja perdido no meio do caminho e, por minha responsabilidade essa má orientação levar essa pessoa a ser um profissional de caráter e moral duvidosa, ou se essa pessoa for um profissional derrotado. Eu prefiro encostar a cabeça do meu travesseiro e dormir o sono dos justos.

Mesmo se eu souber que orientando errado ou não orientando ninguém, a chance de não sofrer a concorrência desse novatos pode ser maior, assim eu poderia garantir o meu ganha pão com mais facilidade. Eu ainda optarei em orientar uma pessoa, da melhor forma que eu puder fazer.

É que, dentre outras coisas, eu já descobri que até mesmo os profissionais que estão no mercado atordoados, sem norte e que não conhecem o valor do que faz e nem o potencial que tem nas mãos, um dia também irão competir comigo, oferecendo um trabalho algumas vezes inferior, mas com certeza muuuito inferior no valor cobrado, e aí, quem será prejudicado serei eu. Só que, se isso acontecer, talvez seja tarde demais pra querer tomar uma atitude qualquer.

Mesmo no que diz respeito à qualidade do que se faz, eu prefiro mil vezes orientar para que os iniciantes estejam bem pautados e se desenvolvam em cima de técnicas e princípios excelentes podendo sofrer a concorrência de novatos feras do que ver que eu sofro a concorrência de novatos que tem um trabalho sofrível, igual a outros tantos iniciantes sofríveis, que nunca foram bem orientados e que infestaram o mercado de tal jeito, que grande parte dos nosso clientes começam a achar que esse tipo de trabalho capenga é o normal, é o certo, e que por total falta de costume com trabalho de qualidade prefere não te chamar.

Isso é só um ponto no todo. É somente uma das questões. mesmo porque eu vejo que existem inúmeros pontos que precisam ser analisados com o máximo de cuidado e com o máximo de carinho. E volto a insistir que a gente precisa muitas vezes quebrar paradigmas para que um dia, um ilustrador possa ter um futuro e um mercado digno.

Uma questão que deve ser bem entendida e se encaixa nisso tudo, por exemploé referente à questão que a meu ver deve ser muito bem estudada e analisada para que nós possamos nos encorajar e tomar atitudes seguindo caminhos mais firmes, mesmo que esses caminhos estejam sendo pouco usados atualmente.

Uma das questões é:"Pra que serve ilustração?"

Pode parecer que essa questão seja uma coisa meio fora de contexto, até meio absurda para quem não esteja atento, só que pra mim, essa questão tem uma importância imensa, poderia dizer que fundamental.

Antes de ser ilustrador, cada um de nós tem a obrigação de saber qual é a utilidade de uma ilustração. Eu explico melhor, e com uma pergunta: Como é que alguém pode ter condições de se sentir confortável, útil e verdadeiro como ilustrador se na sua cabeça puder passar uma dúvida como essa? Entendam que fica muito difícil querer lutar com concorrência desleal, CCDA desleal, cliente picareta se qualquer um de nós sequer consegue sentir firmeza que seu trabalho tem uma utilidade.

Na verdade, ilustração serve pra tudo. E quanto mais utilidade nós conseguimos imaginar, mais útil será a ilustração.

Vocês percebem que aí se encontra um paradigma? A partir do momento em que nós descobrirmos as utilidades de uma ilustração, criaremos um novo nicho de mercado, uma nova necessidade, um novo caminho.

É a mesma coisa comparando com o mercado de telefonia. Nos anos oitenta não existia telefone celular. Quem estivesse na rua e precisasse ligar pra alguém ia até um telefone público e se virava. Se tivesse que falar com alguém que estivesse na rua, paciência, não falava. De repente inventaram o aparelho de telefone celular. Hoje em dia quem estiver na rua e precisar falar com outra pessoa que esteja na rua não terá muitas dificuldades. Só que nos anos oitenta ninguém se desesperava porque não havia como falar com quem estivesse na rua. E hoje em dia quando a gente liga pro celular de alguém e cai na caixa postal a gente fica que só falta subir pelas paredes.

E quando não existia e-mail e não havia Internet? Para escrever todo mundo utilizava a boa e velha carta. Tinha que escrever, depois envelopar, depois selar, levar no correio e em alguns dias chegava ao destinatário. Hoje clica-se num botãozinho "send" e dali a dez minutos uma mensagem pode chegar ao mesmo tempo para vários membros de uma lista de discussão. Eu mesmo, se tiver de esperar alguns dias para que essa minha mensagem seja postada, irei me descabelar...

Isso significa que a utilidade de uma ilustração depende de nós, pode ser para livros, revistas, cadernos, bloquinhos de anotação, agenda, estampa de camiseta, boné, calça, rótulo de cerveja, refrigerante, água, pasta de dente, anúncio de revista, jornal, outdoor, desenho animado, pra decorar caderninho de criança, pra decorar trabalho escolar, pra calendário de parede, de mesa, pra decorar aparelho de celular, computador, pra passar no cinema, vídeo, televisão, pra decorar quarto de criança, festa de criança,
quanto de adolescente, festa de adolescente, quarto de adulto, festa de adulto, serve pra decorar bolo, cesta, vaso, mesa, serve para enfeitar chaveiro, lápis, tênis, serve pra fazer tatuagem, pra fazer decalque, serve pra fazer cartão telefônico, cartão de visita, cartão postal, cartão de Natal, cartão de crédito, serve pra virar quadro, mural, vitrine de loja, serve pra tanta coisa....

Talvez o maior defeito do ilustrador e o que é mais necessário na sua formação, pelo menos atualmente é uma visão mais objetiva do seu trabalho inserido no mundo em que vivemos. Por conta de uma série de clientes picaretas e mal intencionados, nós compramos a idéia de que nosso trabalho é uma coisa menor, de que ilustração não é arte, de que qualquer um vive sem ilustração. Será que isso é verdade?

Se fosse assim, não haveria como o trânsito de uma cidade ou de uma estrada ser minimamente civilizado, ou vocês acham que essas placa de trânsito contém o que nela? Se fosse assim dirigir seria um problema sem solução, ninguém poderia saber se seu carro tem problema na bomba injetora, ou no motor, ou se alguma porta do carro está aberta, ou se tem gasolina no carro. porque todas as sinalizações de um carro são na base da ilustração.

Se fosse assim, não iria adiantar nada eu escrever todo esse texto, porque ninguém saberia ler, aliás eu mesmo não saberia nem escrever porque todo mundo foi alfabetizado graças as ilustrações dos livros didáticos.

Quanto a agregar valor, eu acho que uma ilustração é o primeiro recurso para se agregarvalor que existe. Um livro como "O código da Vinci" vende porque seu nome
hoje em dia é um diferencial(sem contar que o livro é sobre pintura, que na sua época tinha a mesma função que a ilustração tem atualmente), ele não precisa de ilustração. Mas se for um livro qualquer, com um título qualquer, só vai vender se tiver uma capa convincente, e é muuuito mais fácil fazer uma capa convincente com ilustração do que com foto ou "all type" e quanto melhor for a ilustração, melhor será a capa. Com uma foto o mesmo resultado se consegue somente com uma foto que seja tão boa, mas tão boa, que pareça uma ilustração. E olha que só estamos falando de capa de livro. Lembre-se das capas de álbuns mais marcantes que você já viu na sua vida. Eu tenho certeza absoluta que a maioria das capas que você conseguir se lembrar foram ilustradas, isso sem contar nas que não foram ilustradas mas contêm fotos de peças ilustradas.


Outra coisa que precisamos começar a compreender é que vendemos essencialmente a utilização de uma ilustração. Quem quiser comprar uma ilustração pra si, como um patrimônio, aí o assunto é outro. Essa opção somente é real se por acaso algum de nós pintarmos um quadro pra que um cliente pendure na parede. Como geralmente nós fazemos uma ilustração para ela ser utilizada comercialmente, ninguém vende a ilustração, mas a sua utilização. Quem não faz isso está perdendo dinheiro está queimando dinheiro ou jogando dinheiro pela janela. Resumindo, é coisa de maluco!

Se o seu cliente não compreender isso, então você poderá fazer um orçamento levando em conta que você está vendendo a ilustração pro cliente fazer com ela o que bem entender, pendurar na parede, esconder atrás do armário ou costurar na fronha do travesseiro. Só que o valor será beeeeem maior, sem contar que não vai dar ao cliente o direito dele utilizar aquela ilustração comercialmente. Uma coisa é utilização comercial, outra coisa é utilização doméstica.

Cliente que não pensa assim, não pensa por culpa dos ilustradores que sempre trabalharam com ele. Se o cliente nunca trabalhou com um ilustrador, então você pode, deve e vai conseguir transmitir ao seu cliente que o que ele compra é a utilização da ilustração e não a ilustração em si.

Se mesmo assim o cliente reclamar, bater o pé e te xingar de malandro e falar que você está se aproveitando dele, então, sinceramente abra mão do cliente porque isso não é cliente, é encrenca.

Quanto a questão do que é ilustração, talvez seja melhor cada um pensar nisso com seus botões porque corremos o risco de discutir o sexo dos anjos, o que não vai ser muito proveitoso. Ilustrador que não sabe o que é ilustração, não é ilustrador.

Quanto a outra questão de que o cliente nunca irá se conscientizar, lembre-se da história do paradigma. Isso é outro paradigma. Desistir de tentar a conscientização é somente uma forma de perpetuar o paradigma. Se acreditarmos que o trabalho de conscientização dos clientes é um caminho válido e precioso (eu acredito nisso, o trabalho do ilustrador para valorizar seu mercado deve ser feito em várias frentes) começaremos a desenvolver métodos para conscientizá-los, mecanismos para isso se realizar com eficiência e entre a nossa situação atual e um mercado consciente, será tudo somente uma questão de tempo.

Vocês já se perguntaram porque um clipart é tão ruim? Porque é grátis e porque paga a quem o cria uma merreca. Se algum dia alguém criar um banco de cliparts pago, vai poder remunerar bem quem o fizer, que por sua vez poderá fazer um trabalho melhor. Enquanto isso não acontecer, só vai sofrer com clipart quem acredita que pra se adaptar aos novos tempo temos que cobrar baratinha, fazer trabalhos cada vez mais simples e mais chutado pra ganhar no volume. Justamente porque essa é a filosofia do clipart e não da ilustração de verdade.

Ah, antes que eu me esqueça, minha crítica quanto à adaptação é referente à idéia de somente aproveitar a correnteza pra ganhar dinheiro da maneira como o mercado atual, que não é nenhum pouco próximo do ideal, e contribuir passivamente para o agravamento da situação.

Tem mais, ilustração hoje em dia não é luxo, está mais pra lixo, mesmo! Ilustração tá começando a ter valores em patamar de produção industrial, sendo que a sua produção é artesanal e extremamente especializada. Isso significa que ou o mercado volta para encaixar a ilustração no padrão que é o natural dela, ou todos nós morreremos de fome mesmo. Aí, Ilustração voltará a ser luxo, porque al'me de ser o que ela naturalmente é, não haverá quem a faça.

Quando eu brigo dizendo que o caminho é o da especialização, da qualidade e da valorização da ilustração é porque temos parâmetros para afirmar tal coisa.

Os nosso parâmetros, como todo país em desenvolvimento são os países desenvolvidos que já superaram muitos dos problemas que passamos, embora encontrem outros que infelismente nós já temos só que como a base já foi resolvida, eles vêem a situação com mais clareza.

Em países da Europa e nos Estados Unidos, o ilustrador não corre nenhum risco entrar em extinção como há no Brasil. Lá, os ilustradores são bem pagos, ilustração tem valor, status de arte, todo mundo conhece, todo mundo gosta. Todos os estilos são valorizados, até mesmos aqueles que no Brasil muito sacanamente se comenta que já não se faz mais por aí.

Quem faz quadrinhos é reconhecido, é bem sucedido, ganha bem, tem público consumidor e mercado e tem mercado pra tudo quanto é tipo de estilo.

Quem faz Editorial é reconhecido, é bem sucedido, ganha bem, tem público consumidor e mercado e tem mercado pra tudo quanto é tipo de estilo.

Quem faz arte final em propaganda é reconhecido, é bem sucedido, ganha bem, tem público consumidor e mercado e tem mercado pra tudo quanto é tipo de estilo.

Quem faz layout é reconhecido, é bem sucedido, ganha bem, tem público consumidor e mercado e tem mercado pra tudo quanto é tipo de estilo.

Agora no Brasil os tempos são outros? Não é assim que todo mundo ouve falar por aí? Que raios de tempos são esses? Será que o Brasil está numa outra dimensão e eu não to sabendo?

Vejam vocês o próprio exemplo do mercado de moda. Quando eu era criança o centro da moda no mundo era Paris e todo mundo só copiava, aí Nova York também virou um centro de moda, depois Milão, Tókio. Nesse tempo todo o Brasil era a porcaria ao cubo, um país sem o mínimo talento pra moda, ninguém acreditava que o Brasil teria algum tipo de destaque na moda, nem que fosse só um dedinho. Lembram do paradigma? O que o pessoal via o Clodovil ou o Dener fazer parecia uma coisa que nunca daria em nada aqui, mesmo porque era uma mera cópia da moda européia.

Hoje em dia, olha o mercado de moda do Brasil se impondo e conquistando o seu espaço no mundo, com um mercado produtivo, criativo, com demanda, importância e com um futuro brilhante pela frente.

O que impede os ilustradores de conquistarem seu espaço e a sua importância é que nós, infelismente damos muito valor aos paradigmas, ao invés de simplesmente realizarmos as coisas que são necessárias.

Agora, entendam uma coisa, a fotografia tem o seu papel, os artistas gráficos tem o seu papel, os artistas plásticos tem o seu papel o os ilustradores tem o seu papel. Nunca a fotografia irá substituir a ilustração, assim como nunca a ilustração irá substituir a fotografia. Existe um ponto em que as duas coisas se tocam e a briga fica boa para ambos mas fotografia é uma coisa, ilustração é outra, assim como artista gráfico faz uma coisa e ilustrador faz outra.

Seria a mesma coisa que dizer que o DVD vai acabar com o mercado fonográfico, porque num DVD você pode colocar um filme e a sua trilha sonora junto e ninguém mais irá querer comprar um CD.

O mercado nosso está uma bagunça, fruto de anos e anos de descuido por parte de nós mesmos. Agora, cabe a nós limparmos o nosso lugar de trabalho, arrumarmos a casa, sermos organizados para destruir os paradigmas, aqueles que nós criamos e aqueles que os nossos clientes criaram pra nós e que nós aceitamos.

Eu só peço uma coisa, não vamos esperar a nossa profissão se extinguir, se no mundo inteiro ela vive, e vive bem, não existe um único motivo para que aqui seja diferente.

Um comentário:

  1. Anônimo10:46 AM

    em outras palavras
    quem não chora não mama

    a união faz a força

    "tamo junto"

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