O texto que vocês poderão ler abaixo é um resumo (e olha que enorme) das observações que eu já a muito tempo andei fazendo quanto aos problemas relativos ao mercado de ilustração e o procedimento dos ilustradores. Foi postada no Ilustrasite no dia quinze de junho.
1) O mercado de ilustração tem um gargalo horroroso, praticamente só existem dois tipos de clientes: Agências e Editoras. Tudo bem também existem produtoras de vídeo, de animação de web, indústrias, mas o que eu percebo que quando a gente chega pra uma pessoa comum, ninguém sabe o que é ilustração. Pode parecer besteira, mas a ilustração sofre um gargalo imenso por falta de demanda. Exite mercado para história em quadrinho no Brasil? Não. É só meia dúzia. Existe mercado para animação no Brasil? Não. Eu estou falando em termos de consumidor final, povão, gente comum.
Se você tem uma banda, toca gutarra, baixo, bateria, ou se você for ator, mímico, humorista, qualquer um por aí vai saber o que você faz. Pode até achar meio estranho o que você faz, mas sabe. Quando você chega pra alguém, que te pergunta a sua profissão e você responde, geralmente o que você houve é um sonoro: O quê é isso? Lustrador? Ahh, ilustrador.... E ilustrador faz o quê? Nossa! Eu não sabia que isso era profissão! Legal né, desenhar... Vejam que nós não somos conhecidos e a nossa profissão é ignorado por todos. Todo mundo pensa que esse tipo de coisa quem faz é Americano!
2) Por outro lado eu vejo que a ilustração de uma forma geral é extremamente bem vinda em qualquer meio; entre intelectuais é vista como algo diferente, uma coisa que acrescenta; entre o povo é algo que todos conseguem entender e gostar. Então porque o povo não consome mais ilustração? Porque os ilustradores não se mostram pro povo! É verdade! Todo mundo quer mostrar seu trabalho em agência de propaganda pra pegar um filé bem suculento.
O cara vê o seu desenho mas não vê necessidade de utilizá-lo. A gente precisa gerar a necessidade de ilustração. A gente precisa se mostrar pras pessoas. O grande lance do IlustraBrasil é justamente o de poder oferecer pra qualquer pessoal que puser os pés no Senac da Rua Scipião uma pequena amostra do que é ilustração. A gente precisa de mais eventos assim, a gente precisa expor mais o nosso trabalho, em galerias ou museus (a minha parte pra isso eu ando fazendo), a gente também precisa expor em locais populares, em estações de metrô, escolas (já pensou a criançada numa escola babando pelos desenho de mestres como o Benício?), a gente precisa fazer eventos públicos, mostras com alguns de nós pintando desenhando. Já pensou, o que esse tipo de coisa não pode gerar? Muita gente vai começar a procurar por ilustração. Saber o que é ilustração. Nosso trabalho pode servir pra aproximar o público e conseqüentemente vai agregar muito mais valor ao noso trabalho profissional.
3) Um ilustrador é um empresário que trabalha com imagens, fazendo com que elas sirvam para resolver os problemas dos clientes. Não é só problema pequeno, é também problema grande. Qualquer tipo de problema. Pra cada problema, um custo diferente. Probleminha custa menos do que problemão, que custa menos do que problemasso! Tudo significa dinheiro, você se predispõe a resolver o problema do seu cliente e ele resolve o seu, que é grana! O cliente quer conversar tete à tete com você? Ok! Vai pra conta! O cliente quer que você ilustre lá mesmo? Ok, dindin no borso!
O cliente quer um trabalho pra amanhã? Belê, me paga o que eu peço que você vai ter o seu trabalho amanhã! Mas é assim, tudo vale grana! cada um sabe o quanto vale ir até o cliente, cada um sabe o quanto vale trabalhar no cliente, cada um sabe quanto vale varar a noite trabalhando. Ao invés de dizer não, diga sim, cobre por isso (cobre um valor que pague pelo descanso que depois você vai precisar), e se o cliente achar caro ou não faz, ou vai resolver o problema com mais prazo eu com um método de trabalho mais barato. O mais importante é que o cliente saiba que pode contar com você, que você dá conta do recado e se o cliente não quiser pagar, azar o dele! Sempre tem cliente com consciência!
4) Eu acho que existe uma relação íntima entre qualidade, prazo, e preço. Independente da utilização do seu trabalho. A gente tem que saber que um trabalho vai custar tanto se feito naquele estilo e com aquele prazo. Se o prazo diminuiu, então o preço aumenta, ou muda o estilo pra algo mais fácil de ser feito. Aumentou o prazo? Então a gente pode aprimorar mais o estilo do trabalho. Isso vai deixar o cliente muito satisfeito. Cliente satisfeito volta a te passar trabalho. O dinheiro é pouco? Então você vai precisar me dar um prazo bom, porque eu não vou poder ficar fazendo só esse trabalho e dispensar clientes que pagam bem...
5) Esse é meu estilo pronto e acabou! Esse é um erro que, pelo que eu já andei vendo por aí mata muitas das prováveis oportunidades de trabalhos com ilustração. Você imaginem um cliente que queira achar algum ilustrador pra estudar algum tipo de desenho meio diferente, uma coisa que o cara ainda não viu por aí, mas meio parecido com alguma coisa meio assim ou assado, aí o cliente vê que o seu trabalho é um pouco parecido com o que ele quer e te pede pra fazer alguns testes, sendo que ele vai utilizar aquele tipo de trabalho pra uma campanha enorme!
Se você falar que seu estilo é aquele e pronto, você é burro! Deixou de ter trabalho e dinheiro pra trocar o seu carrinho, fazer aquela reforma na casa, viajar ou juntar pro herdeiro que está por vir. Em contrapartida, aquele seu cliente vai pensar "Eu nunca mais vou cogitar fazer um trabalho com ilustração! Eles fcam tentando me empurrar um estilo que eu não quero! Bando de picareta" ...E olha que eu já vi isso acontecer.
6) Você, que tem seu estilo. é muderno, Tá na moda. Aí vem um cliente e te pede pra fazer uma ilustra que foge na sua linha de trabalho, em nada se parece com o que você faz. Aí você pra não perder o cliente diz pro cara: Esse estilo é muito antigo, faz um estilo mais muderno como o meu... Ou pior: Esse tipo de trabalho ninguém mais faz! Todo mundo que ilustrava assim já bateu as botas... Sinceramente!
Você não tem vergonha na cara??? Não percebe que se você faz isso, outro ilustrador que tenha outro estilo e que tem um cliente que queira fazer um trabalho que se encaixe exatamente com o tipo de trabalho que você faz, pode fazer com ele a mesma coisa que você fez com seu cliente? Resultado: não houve trabalho, nem pra você e nem pra ninguém! Se você não souber quem faz o tipo de ilustração que o seu cliente quer é melhor ser sincero e dizer que existe quem faça esse tipo de trabalho, só que você não conhece quem faça.
7) É preciso ter consciência no coletivo, antes de lutar para ter o meu espaço, todos precisamos lutar para termos o NOSSO espaço. Se o mercado for maior, poderá abrigar a todos, Já se continuar sendo essa coisinha em que todos se acotovelam fica quase impossível não haver rivalidades, e é justamente esse tipo de coisa que cada um de nós precisa observar.
9) Existem algumas considerações que devemos ter com relação aos clientes: nosso cliente não é nosso inimigo, se a gente começar a entender qualquer cliente como um inimigo em potencial, vale mais abrir mão do cliente. Devemos tratar nossos clientes como parceiros, sempre! Fornecedor e cliente precisam perceber que fazem parte de um cadeia produtiva, que essa cadeia precisa ter elos fortes, uma corrente com elos fortes não se rompe facilmente.
Se nossos clientes ainda não são cientes disso, cabe a nós mostrarmos esse ponto de vista. É importante haver sinergia entre cliente/fornecedor, se nós estivermos dispostos a atendê-los nas suas necessidade, eles começarão a ter disposição em te pagar o que você pede. Caso contrário, abra mão do cliente.
10)Seu preço é o seu preço, e você tem consciência do quanto vale o seu trabalho. É muito importante valorizar o trabalho pelo dinheiro e junto do trabalho colocar atenção e compromisso com o cliente. Ninguém precisar entrar em guerra com cliente que não quer pagar pelo valor justo. Nossa luta deve ser pautada pela qualidade e pelo equilíbrio de todos. Devemos nos cercar de garantias para que não sejamos enganados e explorados e devemos oferecer aos clientes essas mesmas garantias.
No final de tudo, me parece que essas notas podem ajudar alguma coisa. Se alguma coisa que eu escrevi acima afender alguém, peço desculpas antecipadamente. Minha intenção é de construir e ajudar, se não consegui fazer nem uma coisa e nem outra, é porque ainda me falta competência pra ser mais útil.
[]'s
Flavio Roberto Mota
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