28.8.09

Para ser Ilustrador Parte 5 - últimos detalhes

Esse texto, que foi criado para ser o final da série, seria, a princípio o mais fraquinho de conteúdo ao meu ver superficial, no entanto eu demorei muito para poder realizá-lo porque, analizando mais friamente, eu percebi que o ponto final daquilo que pensamos ser um ilustrador pleno, dono de seu próprio negócio, vai muito além dos limites que englobam as técnicas de traço e arte final, embora existam muitas coisas voltadas para esse quesito em nosso texto.

Essa é a parte aonde o caldo "entorna", aonde a maioria dos ilustradores emperram por se acharem geniais demais, talentosos demais e em 99,9999% dos casos, eles simplesmente começam a deixar esse pontos de lado, achando muito trabalhoso, muito além daquilo que ele realmente "gostam" de fazer, revelando um lado obscuro do ilustrador, que é aquele cara que na verdade nunca foi muito chegado em pegar no breu, se sente ofendido quando as pessoas dizem "essa aí não trabalha, só desenha..." mas foge a qualquer indicativo complementar ao seu grande amor da vida, que é desenhar. Nem que seja para o seu próprio bem.

O resultado disso é que 99,9999% dos ilustradores reclamam da vida, do mercado, dos clientes, dos contratos, dos colegas de profissão, da economia, da modernidade, do tradicionalismo e continuam trabalhando e agindo de maneira a dar motivos para que a reclamação continue.

Eu vou começar a lista final pelo óbvio ululante e terminar pelo não tão óbvio assim, mas que deveria ser.

1-Trabalho no computador- Hoje em dia, trabalhar sem computador é um risco por dois grandes motivos: 1º o preconceito que as pessoas tem com quem não trabalha com computador e 2º o fascínio que o computador oferece às pessoas tirando elas da capacidade de avaliar com realidade o valor que o trabalho realizado no computador tem. Eu coloquei como item apenas do último estágio de formação porque principalmente na sociedade brasileira, as pessoas tem uma tendência a achar que as novidades tecnológicas são melhores do que realmente são e acabam prejudicando e muito o processo de aprendizado que é lento, fruto de esforço e dedicação, e até hoje não existe no universo qualquer método comprovado de formação que exima do aprendiz esse tipo de esforço, e o computador justamente atrai as pessoas por ser uma coisa a princípio fácil de se usar, que qualquer um tem acesso e que não exija exatamente muito esforço para aprender a se utilizar. Atualmente os programas mais indicados para se trabalhar e que eu irei colocar numa ordem de aprendizado por questões lógicas (similaridade com as técnicas tradicionais) são os seguintes:

1-1- Painter- é o programa que mais se assemelha aos materiais reais. Com ele você encontra materiais virtuais similares aos materiais reais, mas terá uma certa dificuldade de adaptação, pois esses materiais não se comportam de maneira totalmente semelhante, tendo parâmetros de regulagem, coisa que um material tradicional não possui, além de proporcionar uma melhor mistura de técnicas e materiais.

1-2- Photoshop- é um programa criado a princípio para retoque de imagem, como um auxiliar para fotógrafos, mas que hoje possue recursos muito poderosos para se trabalhar com ilustração. No entanto ele já não é tão semelhante aos materiais tradicionais quanto o Painter, mas é bem mais fácil de se conseguir resultados com um certo impacto visual do que se trabalhando com o Painter. Embora essa característica possa parecer uma vantagem, no que diz respeito ao aprendizado costuma ser uma verdadeira armadilha, pois quem está aprendendo pode muitas vezes desanimar de trabalhar com um Painter para trabalhar apenas no Photoshop e acaba perdendo um elo maior com materiais e técnicas reais, que farão muita falta na hora do ilustrador, já como profissional, se impor como um alguém com plenitude de domínio técnico e artístico.

1-3- Illustrator- é especializado em trabalhos vetoriais, que é um tipo de trabalho que se distancia e muito do tradicional. É também um tipo de programa que apresenta um resultado visual relativamente fácil de se obter e que exige um esforço relativamente fácil, e que assim como no caso do Photoshop, essa facilidade acba sendo mais prejudicial na hora da formação do que benéfica. O trabalho vetorial com o envolvimento que a pessoa acaba tendo, vai se mostrando um mundo novo, oferecendo toda uma gama de possibilidades gráfica, por isso o trabalho no Illustrator sendo aprendido depois dos softwares indicados antes pode potencializar ainda mais a capacidade de realização de trabalhos em técnicas e estilos complexos.

1-4- Flash - é um programa que foi criado para se fazer animações e jogos para web, mas atualmente é bastante indicado até mesmo para se ilustrar nele, mas foge, e bastante do desenho tradicional, criando um certo perigo e dependência com o programa, coisa que deve ser evitada. Já na área de animação, ele permite criar animações tanto em desenho vetorial quanto em bitmap, e se o profissional tiver uma boa formação de animação clássica, trabalhará com bastante facilidade com ele. No entanto não é um programa indicado caso você tenha um projeto grande de animação.

1-5- ToomBoom - esse é justamente o programa que preenche a lacuna da necessidade de se trabalhar com animações em projetos mais longos e complexos. Também trabalha com vetores e bitmaps, mas contém recurso extremamente poderosos que facilitam a vida de um animador e permite realizar um trabalho de qualidade.

1-6- Programas de 3D - atualmente programas como Maya, Modo, Lightwave, Silo, Sketchup, Cinema 4D e outros permitem que uma pessoa possa modelar figuras em 3 dimensões e renderizar essas figuras, seja objetos, pessoas, ambientes ou personagens, e posteriormente animar esses elementos. Atualmente a demanda por esse tipo de trabalho aumentou muito, talvez não tanto quanto o números de pessoas se oferecendo para realizá-lo, no entanto existe uma tendência grande de expansão desse mercado. Conceitualmente, nem todo trabalho de 3D acaba sendo uma herança do trabalho de ilustrador, mas é um trabalho associado, pois muito do que se realiza em termos de 3D no mercado é retoque de imagem e complementa o trabalho de um fotógrafo. Dependendo do direcionamento que pode ser dado na carreira de um profissional que trabalha com 3D ele pode continuar com ilustração, ser um ilustrador especificamente hiperrealista de 3D, um animador, ou um operador de 3D que concorre com fotógrafos pelo tipo de trabalho que apresenta.

2- Redação- saber redigir é uma arma para o ilustrador que pretende ser autor ou roteirista. Fazer um curso de letras, jornalismo ou simplesmente começar a ter o hábito da escrita pode tornar o ilustrador uma pessoa com capaciade de ser o autor de seu próprio trabalho, e isso confere a ele um valor agregado capaz de servir de fiel da balança na hora de um cliente ter que escolher entre um ilustrador e outro.

2- Administração- qualquer ilustrador que queira ser dono ou sócio de um estúdio tem a obrigação de conhecer, e bem, administração. Fazer um curso de administração, seja ele profissionalizante ou superior é o melhor investimento que o ilustrador que está nessa situação pode ter. Conhecer as leis de mercado, ter metas, fazer análise de mercado, montar uma estrutura de trabalho com divisão de tarefas entre os ilustradores, calcular investimentos, gastos e receita irão fazer com que o ilustrador siba escolher os melhores mercados, as tendências, demandas e a planejar sua carreira. Atualmente quase nenhum ilustrador possui esse tipo de conhecimento, e sofre as consequências disso.

3- Marketing- saber se apresentar, saber oferecer seu trabalho, saber abordar, saber criar e manter uma imagem no mercado é uma arma e tanto, e um ilustrador empreendedor precisa ter um certo domínio também dessa arte. No entanto esse é um passo que precisa ser tomado depois dos dois anteriormente sugeridos, pois uma imagem precisa ter também conteúdo para que sobreviva. Um bom profissional de marketing não é aquele que sabe vender bem o seu peixe, mas é aquele que sabe que o peixe que está sendo vendido realmente existe.

Esses itens podem não ser absolutamente todos os necessários, mas um ilustrador que se esforce para ter um bom domínio sobre todos esses itens desde o começo até aqui, tem todas as condições de ser não somente um ilustrador profissional bom e responsável, mas um proprietário de estúdio com capacidade de se estabelecer no mercado sem precisar utilizar artifícios que tanto mal provocam ao nosso detonado mercado.

Eu espero dessa forma ter contribuído de maneira mais efetiva para o mercado. Não serão essas palavras que irão resolver ou auxiliar as pessoas, será a atitude que as pessoas tiverem apartir de informações como essa.

Esse esforço em escrever essa série foi fruto de uma reflexão sobre os materiais que existem por aí que são considerados de grande importância (algumas pessoas até acham essenciais) para a formação profissional de iniciantes. independente do mérito das pessoas que realizaram seus materiais de orientação, eu pessoalmente sempre achei o tipo de informação oferecida insuficiente e supervalorizada.

Tenho total consciência de que essa série ainda é pouco, e se possível pretendo colaborar paulatinamente mais e mais com a melhora do mercado, antes de mais nada me tornando um profissional melhor a cada dia, que é uma forma de exemplificar aquilo que eu escrevo e depois orientar as pessoas da maneira como eu procuro fazer.

26.8.09

Quem sou eu?

Eu não sou preto.
Eu não sou branco.
Eu não sou índio.
Eu não sou pardo.
Eu não sou japonês.
Eu não sou árabe.
Eu não sou judeu.
Eu não sou católico.
Eu não sou protestante.
Eu não sou alto.
Eu não sou baixo.
Eu não sou loiro.
Eu não sou moreno.
Eu não sou ruivo.
Eu não sou filósofo.
Eu não sou artista.
Eu não sou burocrata.
Eu não sou teórico.
Eu não sou acadêmico.
Eu não sou conservador.
Eu não sou moderado.
Eu não sou extermista.
Eu não sou de esquerda.
Eu não sou de direita.
Eu não sou rico.
Eu não sou pobre.
Eu não sou um gênio.
Eu não sou um imbecil.
Eu não sou nada disso.

Eu sou apenas...

...um ser humano.